segunda-feira, 10 de junho de 2019

Resenha do Catecismo

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A Dignidade da Pessoa Humana
(CIC - 1700) A dignidade da pessoa humana radica na sua criação à imagem e semelhança de Deus (Artigo 1) e realiza-se na sua vocação à bem-aventurança divina (Artigo 2). Compete ao ser humano chegar livremente a esta realização (Artigo 3). Pelos seus atos deliberados (Artigo 4), a pessoa humana conforma-se, ou não, com o bem prometido por Deus e atestado pela consciência moral (Artigo 5). Os seres humanos edificam-se a si mesmos e crescem a partir do interior: fazem de toda a sua vida sensível e espiritual objeto do próprio crescimento (Artigo 6). Com a ajuda da graça, crescem na virtude (Artigo 7), evitam o pecado e, se o cometeram, entregam-se como o filho pródigo (1) à misericórdia do Pai dos céus (Artigo 8). Atingem, assim, a perfeição da caridade.
O Homem, a Imagem de Deus
(CIC-1701 e 1710-1715). «Cristo, […] na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, manifesta plenamente o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» (Cl 1, 15 15 O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação), que o homem foi criado «à imagem e semelhança» do Criador. Assim como foi em Cristo, redentor e salvador, que a imagem divina, deformada no homem pelo primeiro pecado, foi restaurada na sua beleza original e enobrecida pela graça de Deus.
«Cristo [...] manifesta plenamente o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime»
Dotada de uma alma espiritual, de inteligência e de vontade, a pessoa humana é, desde a sua concepção, ordenada para Deus e destinada à eterna bem-aventurança. E continua a aperfeiçoar-se na «busca e amor da verdade e do bem».
 «A verdadeira liberdade é, no homem, o sinal privilegiado da imagem de Deus».
O homem é obrigado a seguir a lei moral, que o impele a «fazer […] o bem e a evitar o mal». Esta lei ressoa na sua consciência.
O homem, ferido na sua natureza pelo pecado original, está sujeito ao erro e inclinado para o mal no exercício da sua liberdade.
Quem crê em Cristo possui a vida nova no Espírito Santo. A vida moral, crescida e amadurecida na graça, deve consumar-se na glória do céu
As Bem-aventuranças
(CIC-1716-1921 e 1923-1924). As bem-aventuranças estão no coração da pregação de Jesus. O seu anúncio retorna as promessas feitas ao povo eleito, desde Abraão. A pregação de Jesus completa-as, ordenando-as, não já somente à felicidade resultante da posse duma tema, mas ao Reino dos céus:

«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a tema.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz. porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa» (Mt 5, 3-12)«.
As bem-aventuranças retratam o rosto de Jesus Cristo e descrevem-nos a sua caridade: exprimem a vocação dos fiéis associados à glória da sua paixão e ressurreição; definem os atos e atitudes características da vida cristã; são as promessas paradoxais que sustentam a esperança no meio das tribulações; anunciam aos discípulos as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas; já estão inauguradas na vida da Virgem Maria e de todos os santos.
E o desejo de felicidade
As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de origem divina; Deus pô-lo no coração do homem para o atrair a Si, o único que o pode satisfazer:
«Todos nós, sem dúvida, queremos viver felizes, e não há entre os homens quem não dê o seu assentimento a esta afirmação, mesmo antes de ela ser plenamente enunciada»
«Como é então, Senhor, que eu Te procuro? De facto, quando Te procuro, ó meu Deus, é a vida feliz que eu procuro. Faz com que Te procure, para que a minha alma viva! Porque tal como o meu corpo vive da minha alma, assim a minha alma vive de Ti»
 As Bem-aventuranças descobrem a meta da existência humana, o fim último dos atos humanos: Deus chama-nos à sua própria felicidade. Esta vocação dirige-se a cada um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja, povo novo constituído por aqueles que acolheram a promessa e dela vivem na fé.
«Lá, descansaremos e veremos: veremos e amaremos; amaremos e louvaremos. Eis o que acontecerá no fim sem fim. E que outro fim temos nós, sendo chegar ao Reino que lido tem fim ?»
Deus colocou-nos no mundo para O conhecermos, servirmos e amarmos, e assim chegarmos ao paraíso. A bem-aventurança faz-nos participantes da natureza divina (1 Pe 1, 4 4 Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós)  da vida eterna. Com ela, o homem entra na glória de Cristo e no gozo da vida trinitária.
 A bem-aventurança prometida coloca-nos perante as opções morais decisivas. Convida-nos a purificar o nosso coração dos seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima de tudo. E ensina-nos que a verdadeira felicidade não reside nem na riqueza ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana, por útil que seja, como as ciências, as técnicas e as artes, nem em qualquer criatura, mas só em Deus, fonte de todo o bem e de todo o amor:
«A riqueza á a grande divindade deste tempo: é a ela que a multidão, toda a massa dos homens, presta instintiva homenagem. Mede-se a felicidade pela fortuna, como pela fortuna se mede a honorabilidade [...] Tudo provém desta convicção: com a riqueza, tudo se pode. A riqueza é, pois, um dos ídolos atuais: outro, é a notoriedade. [...] A notoriedade, o facto de se ser conhecido e de dar brado no mundo (a que poderia chamar-se fama de imprensa), acabou por ser considerada como um bem em si mesma, um bem soberano, objeto, até, de verdadeira veneração». 
O Decálogo, o Sermão da Montanha e a Catequese Apostólica descrevem-nos os caminhos que conduzem ao Reino dos céus. Por eles avançamos, passo a passo, pelos atos de cada dia, amparados pela graça do Espírito Santo. Fecundados pela Palavra de Cristo, pouco a pouco, damos frutos na Igreja para a glória de Deus

A Liberdade do Homem
(CIC-1730-1738). Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio dos seus próprios atos:
«O homem é racional e, por isso, semelhante a Deus, criado livre e senhor dos seus atos».
Liberdade e responsabilidade
A liberdade é o poder, radicado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim, por si mesmo, ações deliberadas. Pelo livre arbítrio, cada qual dispõe de si. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e de maturação na verdade e na bondade. E atinge a sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.
Enquanto se não fixa definitivamente no seu bem último, que é Deus, a liberdade implica a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, e portanto, de crescer na perfeição ou de falhar e pecar. É ela que caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se fonte de louvor ou de censura, de mérito ou de demérito.
Quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça. A opção pela desobediência e pelo mal é um abuso da liberdade e conduz à escravidão do pecado.
A liberdade torna o homem responsável pelos seus atos, na medida em que são voluntários. O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre os próprios atos.
A imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais.
Todo o ato diretamente querido é imputável ao seu autor.
Assim, depois do pecado no paraíso, o Senhor pergunta: (Gn3, 13 13 E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi). O mesmo faz a Caim. Assim também o profeta Natan ao rei David, após o adultério com a mulher de Urias e o assassinato deste.
Uma ação pode ser indiretamente voluntária, quando resulta duma negligência relativa ao que se deveria ter conhecido ou feito, por exemplo, um acidente de trânsito, provocado por ignorância do código da estrada.
Um efeito pode ser tolerado, sem ter sido querido pelo agente, por exemplo, o esgotamento duma mãe à cabeceira do seu filho doente. O efeito mau não é imputável se não tiver sido querido nem como fim nem como meio do ato, como a morte sofrida quando se levava socorro a uma pessoa em perigo. Para que o efeito mau seja imputável, é necessário que seja previsível e que aquele que age tenha a possibilidade de o evitar como, por exemplo, no caso dum homicídio cometido por um condutor em estado de embriaguez.
A liberdade exercita-se nas relações entre seres humanos. Toda a pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre e responsável. Todos devem a todos este dever do respeito. O direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, nomeadamente em matéria moral e religiosa. Este direito deve ser civilmente reconhecido e protegido dentro dos limites do bem comum e da ordem pública .
A liberdade humana   e o Pecado
(CIC-1739- 1942). Liberdade e pecado. A liberdade do homem é finita e falível. E, de facto, o homem falhou. Livremente, pecou. Rejeitando o projeto divino de amor, enganou-se a si mesmo; tornou-se escravo do pecado. Esta primeira alienação gerou uma multidão de outras. A história da humanidade, desde as suas origens, dá testemunho de desgraças e opressões nascidas do coração do homem, como consequência de um mau uso da liberdade.
Ameaças à liberdade. O exercício da liberdade não implica o direito de tudo dizer e fazer. É falso pretender que «o homem, sujeito da liberdade, se basta a si mesmo, tendo por fim a satisfação do seu interesse próprio no gozo dos bens terrenos». Por outro lado, as condições de ordem econômica e social, política e cultural, requeridas para um justo exercício da liberdade, são com demasiada frequência desprezadas e violadas. Estas situações de cegueira e de injustiça abalam a vida moral e induzem tanto os fracos como os fortes na tentação de pecar contra a caridade. Afastando-se da lei moral, o homem atenta contra a sua própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os laços de fraternidade com os seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina.
Libertação e salvação. Pela sua cruz gloriosa, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado, que os retinha numa situação de escravatura. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gl 5, 1 1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão). N'Ele, nós comungamos na verdade que nos liberta. Foi-nos dado o Espírito Santo e, como ensina o Apóstolo, (2 Cor 3, 17 17 Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade). Já desde agora nos gloriamos da «liberdade dos filhos de Deus».
A graça de Cristo não faz concorrência de modo nenhum, à nossa liberdade, quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem. Pelo contrário, e como o certifica a experiência cristã sobretudo na oração, quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, tanto mais crescem a nossa liberdade interior e a nossa segurança nas provações, como também perante as pressões e constrangimentos do mundo exterior. Pela ação da graça, o Espírito Santo educa-nos para a liberdade espiritual, para fazer de nós colaboradores livres da sua obra na Igreja e no mundo:
«Deus eterno e misericordioso, afastai de nós toda a adversidade, para que, sem obstáculos do corpo ou do espírito, possamos livremente cumprir a vossa vontade» .
A Moralidade dos Atos Humanos
(CIC-1749-1756). A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de maneira deliberada, o homem é, por assim dizer, o pai dos seus atos. Os atos humanos, quer dizer, livremente escolhidos em consequência dum juízo de consciência, são moralmente qualificáveis. São bons ou maus.
A moralidade dos atos humanos depende:
Do objeto escolhido;
Do fim que se tem em vista ou da intenção:
Das circunstâncias da ação.
O objecto escolhido é um bem para o qual a vontade tende deliberadamente. E a matéria dum ato humano. O objeto escolhido especifica moralmente o ato da vontade, na medida em que a razão o reconhece e o julga conforme, ou não, ao verdadeiro bem. As regras objectivas da moralidade enunciam a ordem racional do bem e do mal, atestada pela consciência.
Em face do objeto, a intenção coloca-se do lado do sujeito que age. Porque está na fonte voluntária da ação e a determina pelo fim em vista, a intenção é um elemento essencial na qualificação moral da ação. O fim em vista é o primeiro dado da intenção e designa a meta a atingir pela ação. A intenção é um movimento da vontade em direção ao fim; diz respeito ao termo do agir. É o alvo do bem que se espera da ação empreendida. Não se limita à direção das nossas ações singulares, mas pode ordenar para um mesmo fim ações múltiplas: pode orientar toda a vida para o fim último. Por exemplo, um serviço prestado tem por fim ajudar o próximo, mas pode ser inspirado, ao mesmo tempo, pelo amor de Deus como fim último de todas as ações. Uma mesma ação pode também ser inspirada por várias intenções, como prestar um serviço para obter um favor ou para satisfazer a vaidade.
Uma intenção boa (por exemplo: ajudar o próximo) não torna bom nem justo um comportamento em si mesmo desordenado (como a mentira e a maledicência). O fim não justifica os meios.
As circunstâncias, incluindo as consequências, são elementos secundários dum acto moral. Contribuem para agravar ou atenuar a bondade ou malícia moral dos atos humanos. Podem também diminuir ou aumentar a responsabilidade do agente (por exemplo, agir por medo da morte). As circunstâncias não podem, de per si, modificar a qualidade moral dos próprios atos; não podem tornar boa nem justa uma ação má em si mesma.
Os Atos Bons e os Atos Maus
O ato moralmente bom pressupõe, em simultâneo, a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias. Um fim mau corrompe a ação, mesmo que o seu objeto seja bom em si (como orar e jejuar «para ser visto pelos homens»).
O objeto da escolha pode, por si só, viciar todo um modo de agir. Há comportamentos concretos – como a fornicação – cuja escolha é sempre um erro, porque comporta uma desordem da vontade, isto é, um mal moral.
É, portanto, errôneo julgar a moralidade dos atos humanos tendo em conta apenas a intenção que os inspira, ou as circunstâncias (meio, pressão social, constrangimento ou necessidade de agir, etc.) que os enquadram. Há atos que, por si e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e das intenções, são sempre gravemente ilícitos em razão do seu objeto; por exemplo, a blasfêmia e o jurar falso, o homicídio e o adultério. Não é permitido fazer o mal para que dele resulte um bem.
A Moralidade das Paixões
(CIC-1762-1770). A pessoa humana ordena-se à bem-aventurança através dos seus atos deliberados: as paixões ou sentimentos que experimenta podem dispô-la nesse sentido e contribuir para isso.
O termo «paixões» pertence ao patrimônio cristão. Os sentimentos ou paixões são as emoções ou movimentos da sensibilidade. que inclinam a agir, ou a não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau.
As paixões são componentes naturais do psiquismo humano, constituem o lugar de passagem e garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso Senhor designa o coração do homem como fonte de onde brota o movimento das paixões.
São numerosas as paixões. A mais fundamental é o amor, provocado pela atração do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar. Este movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem possuído. A apreensão pelo mal causa o ódio, a aversão e o receio do mal futuro; este movimento termina na tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se opõe.
«Amar é querer bem a alguém». Todos os outros afectos nascem neste movimento original do coração do homem para o bem. Só o bem é amado. «As paixões são más se o amor for mau, e boas se ele for bom».
Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más. Só recebem qualificação moral na medida em que dependem efectivamente da razão e da vontade. As paixões dizem-se voluntárias, «ou porque são comandadas pela vontade, ou porque a vontade não Lhes opõe obstáculos». Pertence à perfeição do bem moral ou humano que as paixões sejam reguladas pela razão.
Os grandes sentimentos não determinam nem a moralidade nem a santidade das pessoas; são o reservatório inesgotável das imagens e afetos com que se exprime a vida moral. As paixões são moralmente boas quando contribuem para uma ação boa, e más, no caso contrário. A vontade reta ordena para o bem e para a Bem-aventurança os movimentos sensíveis que assume; a vontade má sucumbe às paixões desordenadas e exacerba-as. As emoções e os sentimentos podem ser assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios.
Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza a sua obra mobilizando todo o ser, mesmo as dores, temores e tristezas, como se vê claramente na agonia e paixão do Senhor. Em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar a sua consumação na Caridade e na Bem-aventurança Divina.
A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo:  (Sl 84, 2 2 A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo).
Consciência Moral
O Catecismo da Igreja Católica, no capítulo dedicado à reflexão sobre a dignidade da pessoa humana, nos números 1776-1802, trata do tema da consciência moral. O número 1776 define a consciência como “uma lei que o homem não se deu a si mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz ressoa, quando necessário, aos ouvidos do seu coração, chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal”, e esta lei é “uma lei escrita pelo próprio Deus”. E assim, citando a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, n. 16, o Catecismo afirma que “consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser”. É por isso que, “quando presta atenção à consciência moral, o homem prudente pode ouvir Deus a falar-lhe” (n. 1777). E é também por isso que se exige a retidão da consciência moral, da qual depende a dignidade da pessoa humana (n. 1780). Diz o número 1780:
A consciência moral compreende a percepção dos princípios da moralidade (sindérese =consciência moral; bom senso), a sua aplicação em determinadas circunstâncias por meio de um discernimento prático das razões e dos bens e, por fim, o juízo emitido sobre os atos concretos a praticar ou já praticados. A verdade sobre o bem moral, declarada na lei da razão, é reconhecida prática e concretamente pelo prudente juízo da consciência. Classifica-se de prudente o homem que opta em conformidade com este juízo.
Também o Documento 50 da Conferência Nacional do Bispos do Brasil, fruto da 31ª Assembleia Geral, ocorrida em Itaici-SP, de 28 de abril a 7 de maio de 1993, em conformidade com o Catecismo, apresenta-nos uma definição de consciência e sua função:

A consciência se apresenta – na linguagem que tenta expressar simbolicamente a sua experiência – como uma “voz” ou uma “luz”. As religiões, também a cristã, dirão: a voz de Deus, a luz de Deus. Porque o imperativo moral manifesta-se à pessoa como algo que está no ser humano, mas que não é dele, não se reduz à sua vontade. O ser humano se descobre não como dono do mundo e dos outros, mas como responsável perante eles (responsável = chamado a dar uma resposta à voz ou ao apelo da consciência). O ser humano descobre o que revela a imensa dignidade de que é portador (CNBB, Doc. 50, n. 71).

Daí que é a consciência que permite assumir a responsabilidade dos atos praticados, de forma que,
(CIC-1781 e 1789) - A consciência permite assumir a responsabilidade dos atos praticados. Se o homem comete o mal, o justo juízo da consciência pode ser nele a testemunha da verdade universal do bem e, ao mesmo tempo, da maldade da sua opção concreta. O veredito do juízo da consciência continua a ser um penhor de esperança e de misericórdia. Atestando a falta cometida, lembra o perdão a pedir, o bem a praticar ainda e a virtude a cultivar incessantemente com a graça de Deus.
 (1 Jo 3, 19-20 19 E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele asseguraremos nossos corações;
20 Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas
)
 Algumas regras aplicam-se a todos os casos:
– Nunca é permitido fazer mal para que daí resulte um bem;
– A "regra de ouro" é:  (Mt7, 12 12 Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profeta).
– A caridade passa sempre pelo respeito do próximo e da sua consciência:  (1 Cor 8, 12 12 Ora, pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo); (Rm 14, 21 21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça).
As Virtudes: ponte necessária entre a consciência e o empenho sociopolítico
O Artigo 7, que segue ao que trata da consciência, fala das virtudes. As virtudes servem de ponte fundamental entre a consciência e o exercício do bem comum, a vida comunitária, enfim, o empenho sociopolítico. A carta de são Paulo aos Filipenses nos diz que:
(CIC-1803).  (Fl4, 8 8 Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.). A virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em atos concretos.
Entre todas as virtudes, se destacam as teologais, que “fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de proceder como filhos seus e assim merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano” (CIC-1813). E, entre as virtudes teologais, destaca-se, ainda, a caridade. Aliás, o Catecismo nos diz que “o exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade. Esta é o ‘vínculo da perfeição’ (Cl 3,14 14 E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição) e a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o termo da sua prática cristã. A caridade assegura e purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino” (CIC - 1827). Dessa forma, é impossível falar em realizar o bem de forma cristã prescindindo da prática das virtudes, sobretudo da caridade. É impossível ter uma consciência retamente formada se não se leva em conta a necessidade de crescer virtuosamente. E é impossível, ainda, um autêntico envolvimento cristão na vida social e política da comunidade sem a caridade. A primeira encíclica do papa Bento XVI tratou justamente do tema da caridade, apontando esta virtude como elemento essencial que firma a identidade do cristão, amado por Deus e chamado a ser sinal deste amor no meio da sociedade. Nos ensina o papa:
Deus amou-nos primeiro e este amor de Deus apareceu no meio de nós, fez-se visível quando Ele enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que, por Ele, vivamos: (1Jo 4,9 e 19 9 Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos19 Nós o amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro). Deus fez-se visível: em Jesus, podemos ver o Pai (Jo14,9-10 9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.
). Na sucessiva história da Igreja, o Senhor não esteve ausente: Incessantemente vem ao nosso encontro, através de homens nos quais Ele se revela; Através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente na Eucaristia. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta “antecipação” de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor (Deus Caritas Est, n. 17).
Assim, as virtudes teologais, sobretudo a caridade, dispõem-nos a viver uma relação com Deus e, ao mesmo tempo, animam-nos no nosso agir moral, uma vez que vivificam em nós todas as virtudes morais, tornando-nos capazes de agir como filhos de Deus em benefício do próximo. As virtudes educam a consciência e a fortalecem no discernimento que impulsiona ao envolvimento na vida concreta da comunidade humana. 
É certo que a solidariedade vai além dos bens materiais e inclui também os bens espirituais da fé, que precede qualquer bem, mas, ao mesmo tempo, deve favorecer, por acréscimo, o desenvolvimento dos bens temporais, conforme diz a Palavra de Deus:  (Mt6,33 33 Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas) .
O ser humano se realiza nas suas relações com os outros, na prática do bem, na participação da vida social, no cuidado para com seus semelhantes, na busca incessante de parceria no desenvolvimento de seu próprio ser sociocultural, na promoção da sua própria dignidade exercendo seus direitos e deveres, mas também na promoção da dignidade do outro, reconhecendo e favorecendo o exercício desses mesmos direitos. E a vida pública, a política, revela-se um meio privilegiado por meio do qual o ser humano pode dar a sua contribuição particular no propósito da construção de um mundo cada vez mais justo, de uma humanidade cada vez mais humana, de uma sociedade cada vez mais equilibrada, de uma caridade cada vez mais efetiva. Sem dúvida, o envolvimento na vida da sociedade, sobretudo na participação ativa na vida pública, caracteriza uma situação propícia para a realização do ser humano. O documento conclusivo de Puebla, no número 521, diz:
Virtudes, Dons do Espírito Santo, Vícios
As emoções e os sentimentos podem ser assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios.
A Palavra de Deus é luz para os nossos passos. Devemos assimilá-la na Fé e na Oração e pô-la em prática. É assim que se forma a consciência moral.
A virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem. As virtudes humanas são disposições estáveis da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a Fé. Podem ser agrupadas à roda das quatro virtudes cardiais: prudência, justiça, fortaleza e temperança.
A Prudência dispõe a razão prática para discernir, em todas as circunstâncias, o verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o realizar.
A Justiça consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.
A Fortaleza assegura, no meio das dificuldades, a firmeza e a constância na prossecução do bem.
A Temperança modera a atração dos prazeres sensíveis e proporciona equilíbrio no uso dos bens criados.
As virtudes morais desenvolvem-se pela educação, por atos deliberados e pela perseverança no esforço. A graça divina purifica-as e eleva-as.
As virtudes teologais dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm, Deus por origem, motivo e objeto – Deus conhecido pela Fé, esperado e amado por Si mesmo.
São três as virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. Pela , cremos em Deus e em tudo quanto Ele nos revelou e a Santa Igreja nos propõe para acreditarmos. Pela Esperança, desejamos e esperamos de Deus, com firme confiança, a vida eterna e as graças para a merecer. Pela Caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
Os Dons do Espírito Santo
Os sete Dons do Espírito Santo, concedidos aos cristãos, são: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus.
(Rm11, 3232 Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia). O pecado é  uma ofensa a Deus. Levanta-se contra Deus por uma desobediência contrária à obediência de Cristo.
O pecado é um ato contrário à razão. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. (CIC-1872). Optar deliberadamente – isto é, sabendo e querendo – por algo gravemente contrário à Lei Divina e ao fim último do homem, é cometer um pecado mortal. Este destrói em nós a caridade, sem a qual a bem-aventurança eterna é impossível; se não houver arrependimento, tem como consequência a morte eterna. O pecado venial constitui uma desordem moral, reparável pela caridade que deixa subsistir em nós. (CIC-1852): É grande a variedade dos pecados. A Sagrada Escritura fornece-nos várias listas. A Epístola aos Gálatas opõe as obras da carne aos frutos do Espírito:  (Gl 5, 19-21 19 Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias
, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus
).
A repetição dos pecados, mesmo veniais, gera os vícios, entre os quais se distinguem os pecados capitais: Soberba, Gula, Inveja; Ira; Luxúria; Avareza, Preguiça
Obras de Misericórdia e Misericórdia
Redescubramos as Obras de Misericórdia Corporal: Dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as Obras de Misericórdia Espiritual: Aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Precisamos sempre de contemplar o mistério da Misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: É o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: É a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: É o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

https://www.vidapastoral.com.br/edicao/a-consciencia-e-o-discernimento-sociopolitico-no-catecismo-da-igreja-catolica/
https://opusdei.org/pt-pt/article/obras-misericordia-jubileu-2015/
https://www.respostas.com.br/qual-a-diferenca-entre-alma-e-espirito/
https://www.wordproject.org/bibles
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html
https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/as-virtudes-cardeais/
https://permanencia.org.br/drupal/node/2093
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http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s1cap1_1699-1876_po.html

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