sábado, 23 de novembro de 2019

Véspera da Solenidade de Cristo Rei...Pacto de Confiança em Deus

Hoje, véspera da Solenidade de Cristo Rei, foi firmado um Pacto de Confiança proposto por Deus, onde ao longo do dia Ele enviaria um "sinal" para que pudesse crer e confiar na Palavra Dele, em troca seria redigido um contrato de Confiança.
Houve o sinal:
 Dois carros estacionados no trajeto do caminho, não habitual, um logo a seguir ao outro, cujas chapas continham as mesmas letras:
FE 

Contrato de Confiança elaborado (figura inicial):
____________________________________________________________________________
Este contrato  firmado através do seguinte sinal do pacto de confiança: 
Duas Chapas  de carros seguidos com as letras FE
Deus
em reconhecimento da
     Sua Onipotência, Omnisciência e Onipresença, confio
  que  está no leme do barco que  me transporta no mar
  da  vida.

             M. Céu M.L.                                       23 de Novembro de 2019
            Assinatura                                                        Data
_____________________________________________________________________________

Depois do "sinal" recebido e do "Contrato de Confiança" firmado, surge a confirmação no testemunho de Jesus relatado no Evangelho (João 17:9-21)
9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.
10 E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado.
11 E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.
12 Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
13 Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.
14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
16 Não são do mundo, como eu do mundo não sou.
17 Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
19 E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.
20 E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
21 Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós,

A solenidade deste último domingo do ano litúrgico da Igreja nos coloca frente à realeza do Rei Jesus. Criada em 1925, pelo Papa Pio XI
O Salmo 93 confirma essa realeza
1 O SENHOR reina; está vestido de majestade. O SENHOR se revestiu e cingiu de poder; o mundo também está firmado, e não poderá vacilar.
2 O teu trono está firme desde então; tu és desde a eternidade.
3 Os rios levantam, ó SENHOR, os rios levantam o seu ruído, os rios levantam as suas ondas.
4 Mas o SENHOR nas alturas é mais poderoso do que o ruído das grandes águas e do que as grandes ondas do mar.
5 Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade convém à tua casa, SENHOR, para sempre.

Pode ser também o final de mais uma etapa na nossa vida. Olhar para o caminho que fizemos. Recordar e agradecer as Graças, Bênçãos, os livramentos que o Senhor nos concedeu, as vezes em que sentimos mais próxima a Sua presença amiga, confortante, um bálsamo, uma brisa refrescante no deserto árido, em que, por vezes, o nosso barco ficou encalhado, na travessia do mar da vida, quando por momentos é fustigado por tempestades pavorosas, onde olhamos a nossa volta e o mundo parece mergulhar num caos, tudo sem sentido e nada faz sentido. 
E selar o Contrato de confiança orando
Pai nosso que estais nos céus
santificado seja o vosso nome
venha a nós o vosso Reino
seja feita a vossa vontade
assim na terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje
perdoai-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
e não nos deixeis cair em tentação
mas livrai-nos do mal.
Amém!

 E cantando:
Confiarei (O Senhor é meu Pastor)

Confiarei nessa voz que não se impõe
Mas que oiço bem cá dentro no silêncio a segredar
Confiarei até que mil outras vozes
Corram muito mais velozes para me fazer parar
E avançarei, avançarei o meu caminho
Agora eu sei, que Tu comigo vens também
Aonde fores eu estarei sem medo avançarei

O Senhor é meu pastor
Sei que nada temerei
Ele guia o meu andar
Sem medo avançarei

Confiarei na Tua mão que não me prende
Mas que aceita cada passo no caminho que eu fizer
Confiarei ainda que o dia escureça
Não há mal que me aconteça se contigo eu estiver
E avançarei, avançarei o meu caminho
Agora eu sei, que Tu comigo vens também
Aonde fores eu estarei sem medo avançarei

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Caminhos de São Francisco: 24/9-6/10/2019-Introdução


 Introdução
A peregrinação, realizada recentemente, pelos Caminhos de São Francisco é uma experiência fantástica, quer a nível de espiritualidade que promove uma profunda sintonia com Deus através da interação com a Natureza, quer a nível da saúde física, mas principalmente da saúde mental e psíquica, quer a nível da vida no sentido amplo e irrestrito, desde que, o peregrino esteja aberto e disponível para vivê-la. 
Apesar de ser o único santo  que sempre despertou profunda admiração (desde o filme "Irmão Sol, Irmã Lua" que retratava a vida dele, da sua capacidade em termos de humildade,  obediência e eloquência, mas, principalmente, após ouvir o relato que os animais, em especial os que estavam doentes, iam até onde ele estava para ficarem curados, e fizeram dele santo protetor dos animais e patrono dos Veterinários, de tal forma que, ao longo da vida (até hoje), sempre que encontrava um animal abandonado, ou não, que parecesse faminto ou triste, ou ainda na beira de uma rua ou estrada, de imediato surgia uma súplica a ele, São Francisco, que olhasse por aquele animal em questão e o atendesse nas necessidades dele), com isso, imediatamente surgia paz e a certeza que o animal seria atendido, bem como de cantar com profunda emoção a sua Oração,  nunca tinha ouvido falar nos "Caminhos de São Francisco", como é possível isso? diversas vezes, nos caminhos percorridos, esta pergunta surgiu.
Por ter tido a bênção de viver tão maravilhosa experiência é que surgiu a necessidade de partilhar, para que aqueles que não viveram-na, se um dia tiverem possibilidade que o façam e para aqueles que não é possível, que o façam através da fotos tiradas diariamente em cada percurso e se imaginem lá, que com toda certeza terão a sensação de estar lá nos Caminhos de São Francisco.
Antes de avançar para a descrição dos Caminhos de São Francisco- o Caminho da Paz, um breve resumo da estrutura deste projeto (estrutura alterada: Foi desmembrado o "Post" Preparação prévia, por constatar que ficou muito extenso, por esse motivo este "Post" foi recriado e publicado com a data de hoje 15/11/2019, justamente para permitir essa alteração sem modificar a sequência da publicação) :
-Introdução (neste "Post")
Definição dos Caminhos
Ser Peregrino nos Caminhos
Região dos Caminhos - Úmbria
Breve História da trajetória da Vida de São Francisco
Cronologia de São Francisco
- Roteiro dos Caminhos ("post" a seguir)
 - Preparação prévia (textos fornecidos com antecedência de meses) -  (duas publicações seguintes) 
- Descrição do Percurso diário (com fotos) - treze últimos "Post"
- Conclusão - no "Post" do décimo terceiro dia.
- Cânticos entoados nos caminhos - último "Post"



Os Caminhos de São Francisco
Os franciscanos são "uma ordem extraordinária que logo se expandiu a todo o mundo e que convidava as pessoas à pobreza, à simplicidade e à beleza da criação", disse. Monsenhor Andreatta explicou que "por estas rotas, tanto em tempos modernos como antigos, os homens podem redescobrir aqueles valores da capacidade de observar a natureza, e levá-la consigo pelo caminho dentro de seus corações no silêncio de sua caminhada. Mas sobre tudo, a profundidade de sua relação com Deus".
"Estes são os caminhos onde os três valores da beleza, do assombro e da harmonia podem ainda tocar o coração do homem e conduzi-lo a Deus", sublinhou.
Em entrevista com o grupo ACI, o administrador delegado da ORP, Padre Caesar Atuire, indicou que a espiritualidade dos franciscanos pode ser experimentada tanto por crentes como não crentes, todo aquele que possa "descobrir através da natureza a mão de Deus que a criou, o encontro com o próximo, e a simplicidade da vida. Descobrir tudo o que cria uma harmonia para viver em paz com nós mesmos e com o próximo" é capaz de viver o ideal de S. Francisco na opinião do funcionário vaticano.
Ser peregrino
Historicamente falando, toda peregrinação começa no exato momento em que, com o coração e a alma, decide-se genuinamente abandonar uma condição de vida até aquele momento materialmente vivido para "conectar-se" ao sagrado. Este termo deriva do latim peregrinus e tem em si o mais profundo senso de humildade e uma vida desprovida de conforto e facilidade e, em vez disso, dedicada à pobreza material e à riqueza espiritual.
A Úmbria, que sabiamente une arte e natureza, manifesta-se ao turista como uma terra mística e espiritual, acompanhando-a em uma jornada simbólica extraordinária ao longo da Via di San Francesco.
Ser peregrino nesta terra responde à mais profunda necessidade e desejo de "viver a experiência", de aproximar-se de uma relação mais autêntica com a espiritualidade, encontrando um novo senso de paz e harmonia com os caminhos franciscanos. rodeia.
O que a Umbria valoriza é a chance de viver a experiência de peregrinação religiosa e contato sincero e genuíno com a natureza, refazendo os passos de São Francisco e sua história que começa na cidade de Assis, conhecida em todo o mundo. mundo como uma cidade de paz. É aqui que São Francisco experimenta sua desapropriação e é daqui que o Santo inicia sua jornada em direção a Gubbio, onde chegará não para encontrar aceitação, mas para dar. Os itinerários religiosos que acompanharão a descoberta do Santo e sua vida abrirão as portas, se desejado, ao imenso e inestimável patrimônio artístico que a região tem a oferecer. Natureza, arte, religião e, portanto, hospitalidade, hospitalidade e um bem-estar espiritual redescoberto são apenas algumas das razões para a escolha da Úmbria.
Terra dos Santos (San Benedetto da Norcia, Santa Rita da Cascia, Santa Chiara), aninhada no centro da Itália, caracterizada pelo verde das colinas e pelo rugido das águas, atenta e focada em preservar e compartilhar seus valores e seus valores. tradições, a Úmbria traduz a necessidade de criar um desapego do frenesi diário para mergulhar em uma atmosfera aparentemente atemporal.
Essa pequena e grande região deixa ao peregrino a possibilidade de escolher e aderir profundamente às razões de sua peregrinação: toda a beleza desse "objetivo errante" será descoberta e todos poderão tirar dele ensinamentos e benefícios. Um destino de peregrinação durante todo o ano, a Úmbria está sempre pronta para receber quem deseja descobri-lo pela primeira vez ou retornar não apenas como turista, mas como peregrino.

http://www.umbriafrancescosways.eu/en/catholic-pilgrimage-to-assisi/
Região dos Caminhos de São Francisco - Umbria
Conhecida em todo o mundo como o coração verde da Itália, a Úmbria é a porta de entrada ideal para atravessar para regenerar corpo e alma, desfrutando não apenas de sua extraordinária recepção, da calma agradável que permeia seus centros, das misteriosas atmosferas medievais que a distinguem e que excitam, mas também os sabores da culinária genuína e sincera, castelos e arquitetura antiga de pedra, eventos culturais e encenações históricas.Uma natureza soberana - que além de encantadora por sua beleza emana e evoca pura espiritualidade - é então o pano de fundo para a descoberta desta região, atraindo turistas de todo o mundo e consagrando-se como um destino privilegiado para as formas de turismo religioso. Assim, embora caracterizada por ser um ponto de chegada maravilhoso, essa região surpreendente, embora pequena e tão concentrada, é um ponto de partida igualmente maravilhoso para procurar uma nova espiritualidade. É impossível falar sobre a Úmbria sem "passar" por seus santos: Santa Rita da Cascia, San Benedetto da Norcia e San Francesco d'Assisi, cujas histórias são conhecidas em todo o mundo. Mas falando de natureza e espiritualidade, através de numerosos caminhos, é São Francisco quem acompanha o turista, revelando paisagens fascinantes e muita emoção. Na província de Terni, caminhos que só podem ser percorridos a pé levam à descoberta dos espécimes - cavernas e cavidades naturais - nas quais São Francisco se retirou para ouvir o sopro da terra, quase sempre nas proximidades de grandes florestas, em montanhas inacessíveis, como no caso do Speco de sant'Urbano perto da característica cidade de Narni. Mas o caminho franciscano mais intenso, símbolo universal da paz, é aquele que leva de Assis a Gubbio através da Valfabbrica.
Retrocedendo os degraus do Santo, poderá reviver não apenas a desapropriação "dos afetos, das roupas e do dinheiro", consumida publicamente na praça de Assis, mas também na partida para Gubbio e na chegada. Uma estrada selvagem entre os bosques de Assis e Valfabbrica, entre o castelo de Giomici e a montanha de Biscina, ao longo do vale de Chiascio, dará uma lembrança indelével dessa experiência.
http://www.umbriafrancescosways.eu/en/sentiero-francescano/

Breve História de São Francisco de Assis

Francisco nasceu em Assis em 1182 e foi Batizado com o nome Giovanni, mas seu pai, Pietro di Bernardone, um comerciante de roupas francesas, apelidou-o de Francesco, ou "o francês". Filho de uma família rica, Francisco era bem-educado e despreocupado na juventude. As fontes franciscanas o descrevem como alegre e divertido, embora não superficial, generoso e sensível, embora busque atenção. Ele sonhava com seu futuro, incentivado por seu pai ambicioso e vários presságios auspiciosos, incluindo um homem pobre que, prevendo a grandeza futura do santo, colocaria sua capa diante dos pés de Francisco cada vez que se encontrassem.
Aos vinte anos de idade, Francisco foi capturado durante a batalha em Collestrada pelas tropas perugas e mantido como prisioneiro de guerra por um ano, período em que iniciou sua conversão. Ao retornar a Assis, ele sucumbiu a uma doença longa e misteriosa e, ao se recuperar, era um homem mudado. Muitas vezes, buscando a solidão na zona rural tranquila em torno de Assis, ele continuou tratando roupas e socializando, mas estava inquieto. Em 1204, ele uniu forças com um batalhão partindo para uma campanha militar na Apúlia, mas a aventura durou pouco. Em Spoleto, após um sonho, ele abandonou o cavalo e os braços para voltar a Assis, para o espanto de sua família e o escárnio de seus vizinhos.
Um ano depois, o abraço de um leproso produziu uma alegria inesperada em Francisco e, logo depois, uma cruz de suspensão, pendurada em uma capela decrépita do país, milagrosamente ordenou que ele "fosse e consertasse minha casa que, como você vê, está arruinada" (593 FF). Ele começou a reconstruir a capela e cercando-se de pobres e leprosos, investindo sua energia e a riqueza dos negócios de sua família. O pai de Francisco, que até agora tolerara as excentricidades de seu filho, perdeu a paciência, primeiro trancando Francisco dentro de casa e depois arrastando seu filho na frente do Bispo de Assis. Foi aqui que, em janeiro (ou fevereiro) de 1206, Francisco se despiu publicamente de suas roupas - cortando simbolicamente seus laços familiares - declarando “a partir de agora direi: 'Pai nosso que estás nos céus' e não 'Pai, Pietro di Bernardone. '”(FF 597) Após um breve período de solidão, Francisco conquistou seus primeiros seguidores e se estabeleceu no tugurio, uma cabana áspera, em Rivotorto. Na primavera de 1209, Francisco escreveu uma regra simples (agora perdida) e viajou para Roma para apresentá-la ao papa. Inocêncio III, movido por uma visão em que viu a Basílica Lateranense em colapso sustentada pelo jovem monge, concedeu sua aprovação e investiu a Francisco na tarefa de "pregar penitência a todos". Em 1212, a crescente fraternidade franciscana se mudou para Porciúncula, perto de Assis. Durante esse período, Clara, uma jovem nobre de Assis, tornou-se seguidora de Francisco e se estabeleceu em San Damiano. Os anos seguintes trouxeram uma rápida expansão da Ordem Franciscana, após vários sermões nas cidades italianas e européias, com a participação de um grande número de homens e mulheres inspirados a imitar o humilde monge. Francisco, que desejava espalhar o Evangelho por todo o mundo, empreendeu uma série de viagens a terras não-cristãs; em 1211, suas viagens foram interrompidas por um naufrágio na Dalmácia e, em 1214, por uma doença na Espanha (Santiago de Compostela). Em 1219, ele finalmente chegou ao Egito, onde se encontrou com o sultão Melek-el-Kamil, e depois continuou na Terra Santa. Ao retornar à Itália, Francisco deixou o cargo de líder da irmandade. Em 29 de novembro de 1223, o Papa Honório III aprovou o Regimento Franciscano, que sancionou a formação da Ordem dos Frades Menores. Quase cego, Francisco retirou-se para o eremitério de La Verna, em 1224, onde recebeu os estigmas. Ele morreu em Porciúncula na noite de 3/4 de outubro de 1226 e foi canonizado pelo Papa Gregório IX em 16 de julho de 1228. "Maneiras" e "Sites" franciscanos ao contrário da tradicional estabilidade dos monges, as ordens mendicantes estabelecidas entre os séculos XII e XIII foram caracterizadas por uma forte inclinação para a viagem como um meio de espalhar o Evangelho. A ordem franciscana não foi exceção; Francisco e seus irmãos se moveram incessantemente - através de cidades e aldeias para pregar a Palavra, mas também através de montanhas e florestas em busca de lugares isolados para recuar em oração e penitência. Fora da Úmbria e seus arredores, o santo de Assis realizou três longas viagens em partibus infidelium: no primeiro (1211; cf. FF 417-418), chegou à Damatia e no segundo (1214; cf. 368; 1830), Espanha (provavelmente visitando Santiago de Compostela). Somente durante a terceira jornada ele finalmente alcançou o Oriente (1219; cf. FF 1172-1174). As viagens de Francisco refizeram as principais rotas terrestres e marítimas e passaram pelas cidades mais importantes de seu tempo. Muitos assentamentos franciscanos, que Francisco chamou de “luoghi” - ou locais - para sublinhar sua simplicidade e tamanho pequeno (cf. FF 1561-1563), foram estabelecidos nos arredores das cidades, estrategicamente perto dos pobres e de uma grande população a quem os irmãos podiam pregar e pedir esmolas. Ao longo dos séculos, muitos desses assentamentos primitivos cresceram e se tornaram conventos importantes, incluindo igrejas e edifícios ricos em arte. Outros “luoghi”, no entanto, foram estabelecidos em locais isolados nas florestas ou no topo de colinas, adequados para oração, contemplação e penitência. O próprio Francisco retirou-se para um desses eremitérios, abandonando sua vida mendicante de pregar por um período de solidão, apesar dos protestos de seus contemporâneos São Rufino e Santa Clara, que insistiam que seu propósito divino não era uma vida de contemplação (cf. 1845). Esses conventos pacíficos, numerosos ao longo do caminho de São Francisco, permanecem símbolos convincentes da simplicidade franciscana, com sua arquitetura grosseira perfeitamente em harmonia com o ambiente natural e com a busca de Deus que começa a cada minuto. Não apenas relíquias históricas, no entanto, essas ermidas são onde os peregrinos que passam ainda podem encontrar discípulos modernos de Francisco, homens e mulheres que seguem seus passos e abraçam as virtudes da pobreza, castidade, obediência e caridade para com o próximo. Aqui, os viajantes podem compartilhar os alojamentos e experimentar o ritmo franciscano de oração e de vida, que apenas aumenta o profundo significado - tanto como humanos quanto como cristãos - de sua jornada ao longo do caminho de São Francisco.

Esta jornada de peregrinação olha não apenas para o passado, mas para o presente e para o futuro, à medida que se desenrola ao longo de uma rota viva e respiratória, onde o humilde santo ainda fala com a alma.

Cronologia

1181-82: Pai ausente, Francesco da Pietro di Bernardone e Madonna "Pica" nasceram em Assis. No batismo, a criança se chama Giovanni, mas seu pai, que voltou de sua jornada mercantil, o chamou de Francesco.
1202: É uma luta aberta entre Perugia e Assis. Os exércitos opostos colidem em Collestrada. A vitória pertence aos perugianos. Entre os assisanos, também capturou Francesco, de 20 anos, que permanecerá preso em Perugia por cerca de um ano.
1204: Francisco vive um longo período de doença; no final do ano, ele decide ir para a Apúlia, lutar sob a liderança de Gualtiero di Brienne, mas, tendo chegado a Spoleto, seguindo uma visão misteriosa, anula seus planos e retorna a Assis.
1205: O vigésimo quarto ano também marca o início de sua conversão: o abandono de amigos, de jovens despreocupados; uma vida de oração mais intensa; o encontro e o beijo para o leproso; O encontro de Francesco com o crucifixo em San Damiano; a peregrinação a Roma e a primeira experiência de pobreza.
1206: Renúncia a bens paternos; restaura as três pequenas igrejas de San Damiano, San Pietro della Spina e Porziuncola.
1208: Na primavera, ele escuta o Porziuncola, o Evangelho da Missa votiva dos Apóstolos, que amadurece nele a vocação evangélica e apostólica; no mesmo ano, os primeiros companheiros reuniram-se ao seu redor, tornando-se a Primeira Ordem Franciscana.
1209: Ele compôs uma primeira regra curta e com seus companheiros foi a Roma para obter a aprovação, que lhe foi concedida oralmente. Ao voltarem, param no casebre estreito de Rivotorto. 1210: Forçada a deixar a favela de Rivotorto, a crescente fraternidade é transferida para Porziuncola. 1212: Chiara, dezoito anos, foge para Porziuncola, onde Francisco a consagra a Deus com cortes e penteados; pouco tempo depois, sua irmã Agnes a segue: é o começo da Segunda Ordem Franciscana. 1217: No Pentecostes, o primeiro Capítulo Geral na Porziuncola; 12 províncias ou circunscrições franciscanas são erguidas.
1219: No capítulo de Pentecostes em Porziuncola; está decidido o envio de franciscanos para a Alemanha, França, Hungria, Espanha e Marrocos. Os cinco que chegam ao Marrocos são martirizados (protomartyrs franciscanos). O próprio Francesco embarca em Ancona e chega ao acampamento dos cruzados em Damiata.
1221: Francisco escreve a Regra chamada "não carimbada", que é apresentada no capítulo de Pentecostes.
1223: Francesco, em Fontecolombo, elabora a regra definitiva "carimbada", que em 29 de novembro Honório III aprova com o touro Solet annuere. O original da regra é mantido na Basílica de San Francesco.
1224: Em 14 de setembro, no Monte de La Verna (Ar), o Santo recebe a impressão dos estigmas. 1225: Em San Damiano Francesco compõe o Cantico di Frate Sole, também conhecido como Cantico delle Creature.
1226: Na noite de 3 de outubro, aos 44 anos, o Poverello morre em Porziuncola. No dia seguinte, ele foi levado para Assis e temporariamente colocado na igreja de San Giorgio.
1228: O Papa Gregório IX, em 16 de julho, está em Assis para a solene canonização do Santo; 17 coloca em sua homenagem a pedra fundamental da nova Basílica. 1230: 25 de maio: tradução solene do corpo de São Francisco de São Jorge para a nova Basílica de São Francisco em Assis, que Gregório IX, com a bula Is qui ecclesiam suam, de 22 de abril anterior já havia declarado sujeito ao pontífice romano: e mãe da Ordem dos Menores ”
https://www.acidigital.com/noticias/peregrinacao-pelo-caminho-realizado-por-sao-francisco-de-assis-e-reinaugurada-na-italia-25727
http://www.sanfrancescoassisi.org/it/sanfrancesco/vita-di-san-francesco/cronologia
http://www.umbriafrancescosways.eu/en/sentiero-francescano

domingo, 10 de novembro de 2019

Caminhos de São Francisco - 24/9-6/10/2019- Preparação prévia (1)

O "Caminho Franciscano da Paz" de 2019 (Setembro-Outubro) teve uma preparação prévia, através de textos enviados por correio eletrônico pela organizadora, Ana Mattioli, transcritos:

8 de Julho de 2019
ALEGRIA DE SÃO FRANCISCO
Fora de dúvida, uma nota inseparável de Francisco de Assis é a alegria, que forma com ele um todo. Se a pobreza fica perfeitamente enquadrada pelo adjetivo “franciscana”, diga-se outro tanto da alegria. Quando adjetivada de franciscana, ela forma um todo e evoca a alegria na sua pureza mais lídima e na sua expressão mais concreta.
A convicção profunda de ser amado por Deus, a clareza de que tudo quanto fora criado dentro da beleza o fora para ele, a fraternização que conseguira estabelecer com todos os seres da natureza fazia-o cantar de alegria. Com frequência, era visto empunhando um galho que arranjava à moda de violino e à moda de arco manejava um outro galho, como um violinista embevecido a produzir cascatas de notas que se evolavam pelo azul do céu. Como aprendera o francês de sua mãe e, com a língua, as canções da Provence, quando o júbilo o inundava, punha-se a cantar em francês os louvores de Deus.
Celano exprimiu muito bem este arrebatamento: “A suavíssima melodia de seu coração exprimia-se externamente em palavras que ele cantava em francês, e o que Deus lhe murmurava furtivamente ao ouvido extravasava em alegres cânticos franceses. Às vezes, pegava um pedaço de pau no chão, como vi com meus olhos, punha-o sobre o braço esquerdo, segurava na direita um arco de arame, passava-o no pedaço de pau como se fosse um violino e, fazendo os gestos correspondentes, cantava ao Senhor em francês. Frequentemente, esta festa toda acabava em lágrimas, e o júbilo se dissolvia na compaixão para com a paixão de Cristo. Então, começava a suspirar sem parar, dobrava os gemidos, e logo, esquecido do que tinha nas mãos, era arrebatado ao céu” (2 Cel 127).
Se de um lado tinha a inspiração e a sensibilidade de poeta, do outro, sua comunhão com a natureza fazia-o o homem pacificado. Como consequência desta pacificação estava possuído da alegria. Não de uma alegria artificialmente alimentada ou freneticamente buscada, feita de bens e de coisas materiais, mas uma alegria, em verdade, gozosa, vale dizer, espiritual, íntima, profunda, contagiante. Não lhe agradava em absoluto encontrar religiosos com ares taciturnos, com frontes enrugadas e seriedade artificial. Imediatamente os enviava a um confessor, pois, a seu ver, uma só razão justificava a tristeza: o afastamento de Deus por causa do pecado.
Segundo um seu biógrafo contemporâneo: Francisco esforçava-se por conservar a alegria espiritual interior e exterior. Não lançava mão apenas de seu gênio alegre e amável e de seu trato cavalheiresco e agradável, mas empregava um constante esforço, através da reflexão, da contemplação e meditação para alicerçar esta alegria. Por isso, os acontecimentos, ainda que de caráter sério, não lhe anuviavam o semblante, não lhe maculavam a palavra, não lhe entristeciam o interior. Sabia que, além de tudo e depois de tudo, há uma solução.

Custa-nos compreender como a alegria possa ser compatível com sofrimentos físicos ou penas interiores. Francisco soube fazer a fusão. Na sua célebre parábola sobre a Perfeita Alegria, mostra-nos que esta convivência é perfeitamente possível, uma vez que a alegria não é introduzida no homem através de mecanismos ou de posses ou de satisfações periféricas, ela é uma realidade que habita o âmago do homem, mas que deve ser trazida à tona, mediante uma concepção de vida com a qual são encarados os acontecimentos terrenos e históricos.
Esta alegria tornou-se-lhe como que a companheira de sua vida. Mesmo, prostrado ao solo de sua pobre cela, momentos antes de morrer, quando todo homem estremece, ele canta, pois o canto é a expressão mais concreta e exuberante da alegria. Como diz Tagore: “Os verdadeiros poetas, os videntes, tratam de expressar o universo em termos de música”. Os frades, seus companheiros, imbuídos ainda de preconceitos, bem ocidentais, aliás, em relação à morte, advertem-no de que cantar naqueles momentos poderia causar escândalo aos fiéis, que o tinham em conta de santo. Mas ele lhes mostra que o cristão não tem momentos para não cantar. A vida, em todas as suas explicitações, merece ser cantada, mui especialmente quando se está para transpor os umbrais da eternidade, região onde cessam todos os elementos dolorosos e geradores de sofrimentos ou perturbadores da harmonia.
O respeito com que se aproxima das criaturas, a ausência total de egoísmo e de interesse comercial, faz com que elas lhe respondam de forma alegre: estabelece um dueto com a cigarra, fala e faz-se entender pelos passarinhos, as cotovias lhe vêm ao encontro e o acompanham no momento derradeiro, o falcão o acorda e condói-se de seus cansaços; sente a dor que machuca o coração dos cordeiros levados ao mercado ou ao matadouro e experimenta o regozijo da liberdade conquistada; sofre com a angústia que silencia as rolas aprisionadas e condenadas ao comércio dos homens e vibra com seu vôo liberto, experimentando toda a paixão do libertado.
Não permite que lembranças do passado se instalem tenebrosamente em seu interior, fazendo com que os acontecimentos amargurem, outra vez, o presente. Ele que um dia se despojou de todas suas vestes, diante do pai, despiu-se também de todas as lembranças amargas, fazendo com que a luminosidade da esperança lhe enchesse todas as dobras do coração. Assim, sua música não era desafinada por algo que já se foi. Igualmente, não temia o futuro, não vivia na defensiva do amanhã, porque a pobreza que abraçou lhe permite ser livre, independente até do pão para a próxima refeição. Portanto, não é uma alegria isolada, desencarnada, um pedaço dele mesmo ou uma faceta de seu temperamento, mas é uma consequência de uma forma de conceber a vida e de senti-la numa dependência amorosa de Deus. É a conquista da serenidade. Esta palavra tão rica que evoca a imensidão azul do mar, sem ondas ou ameaças, deslizante, pura, transparente, convidativa e inspiradora. Ele era a alegria.
Quando o sofrimento chega, porque dele não ficou livre, nem o desejou ficar, pelo contrário, pediu-o, este sofrimento encontrará um solo propício e não será um vulcão a derramar lavas de revolta, mas um ser amigo, com um lugar no quadro das amizades, um outro elemento desencadeador de alegria. Também ele encontra lugar, não como antípoda da alegria, mas como fraterno companheiro de jornada, não impedindo que a beleza continuasse a ser beleza, em toda sua majestosa realidade.
A alegria marcará a partir de Francisco, e de fato ainda marca, a produção literária franciscana em todos os gêneros. Giotto, o pintor que embelezou a Basílica, em Assis, onde repousam os restos de São Francisco, introduziu a natureza em seus quadros e na própria arte pictórica. Procurou romper a seriedade e sisudez - quase tristes - bizantinas, para introduzir a alegria da paisagem colorida e de formas animadas. Dele se alimentarão os grandes expoentes do Renascimento, que o tomarão como ponto de partida. Daí afirmarem alguns que São Francisco, com suas ideias, foi uni dos próceres do movimento renascentista, com o que concordamos. O Cântico das Criaturas, onde a alegria borbulha em cada verso, será como que a inspiração constante e cantante dos teólogos e filósofos franciscanos, que através dela revestirão de otimismo e simpatia as verdades mais duras e mais sérias do cristianismo. Sem ser filósofo e sem ser teólogo, marcou profundamente a Teologia e a Filosofia, de maneira a podermos adjetivar estas ciências de “Franciscanas”, quando praticadas na cosmo visão de Francisco.
Se pobre é um adjetivo que caracteriza e descreve Francisco de Assis, alegre tem o mesmo peso e o mesmo brilho e sua ausência tornaria incompleta qualquer definição deste Santo, que nos legou uma “espiritualidade sempre jovem”, evocando jovem como sinônimo de alegria.
Deste modo, a ALEGRIA aparece, com todo o direito, como outra das notas características do FRANCISCANISMO.

Do livro “São Francisco vida e ideal”, de Frei Hugo Baggio, Editora Vozes, 1991


14 de Julho de 2019
Cronologia de São Francisco de Assis

1181/82 - Verão ou outono (junho-dezembro): nasce em Assis. Batizado com o nome de Giovanni di Pietro (pai) di Bernardone (avô). Mudado para Francisco.
1202 - Guerra entre Perusa e Assis. Assis vencida Collestrada. Francisco, com 20 anos, passa um ano preso em Perusa. Resgatado pelo pai, devido à doença. Nesse tempo parece que a família de Clara está refugiada em Perusa: ela com 8/9 anos de idade.
1204 - Longa doença.
1204 - Fim, ou primavera de 1205 (entre março-junho): parte para a guerra na Apúlia, no Sul. Volta após visão e mensagem de Espoleto. Começo da conversão gradual. Em junho de 1205 morre o guerreiro Gautier de Brienne, chefe das expedições no Sul.1205 - Outono (setembro a dezembro): mensagem do crucifixo de São Damião. Conflito com o pai. Região da Umbria
1206 - Janeiro-fevereiro: questão perante o bispo Dom Guido II (1204 a 30 de junho de 1228). Primavera (março-junho): em Gúbio, perto de Assis, cuida dos leprosos.
Verão, provavelmente em julho: volta a Assis. Veste-se de eremita e começa a reparação da capela de São Damião. Fim do processo de conversão; começo dos anos de conversão, segundo a cronologia de Tomas de Celano. (Exemplos 1C 18, 21, 55, 88, 109).
1208 - Janeiro ou fevereiro: trabalha na reparação de São Damião, San Pietro e Santa Maria Degli Angeli ou Porciúncula.
1208 - 24 de fevereiro: ouve o evangelho da missa de São Matias, na Porciúncula, sobre a missão apostólica. Muda as vestes de eremita e passa a usar as de pregador ambulante, descalço. Início da pregação apostólica. Aqui propriamente começa o estilo de vida franciscana, apostólica, de presença.
16 de abril: recebe em sua companhia os irmãos Bernardo de Quintavalle e Pedro Cattani. No dia 23, recebe o irmão Egídio na Porciúncula.
Primavera (março-junho): a primeira missão. Francisco e Egídio vão à Marca de Ancona no litoral adriático. Recebe mais três companheiros, inclusive Filipe (Longo). Outono ou inverno (entre setembro-março): segunda missão. Os sete vão a Poggiobustone no vale de Rieti. Depois de ter-se certificado do perdão dos pecados e do futuro crescimento da Ordem, Francisco envia os seis, e mais um que se lhes agregara, para a terceira missão, dois a dois. Bernardo e Egídio vão a Florença.
1209 - Começos: os oito voltam à Porciúncula. Ajuntam-se-lhes outros quatro. Primavera (março-junho): Francisco escreve breve Regra e vai a Roma com os onze. Obtém a aprovação do Papa Inocêncio III, só oralmente. Seria esta a primeira Regra, perdida. Na volta passam por Orte e se estabelecem em Rivotorto perto de Assis, num rancho abandonado.
Basílica superior de São Francisco de Assis Oto (Otão) IV é coroado imperador em Roma, a 4 de outubro. Está em Assis entre dezembro de 1209 e janeiro de 1210. Passa com seu cortejo perto de Rivotorto, mas não se sabe se antes da coroação ou depois.
1209 - Ou 1210. Os frades mudam-se para a Porciúncula, depois que um camponês toma para estábulo de seu burro. Possível começo da Ordem Terceira Secular. A Porciúncula era dos beneditinos cluniacenses que a emprestaram a Francisco. Torna-se o berço da nova Ordem.
1211 - Verão (junho-setembro): Francisco vai à Dalmácia e retorna.
1212 - 18-19 de março: na noite do domingo de Ramos, a nobre jovem Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula. Talvez em maio fica alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo (perto de Assis) e por fim recolhe-se a S. Damião, onde fica até sua morte em 1253. Segue-a a irmã Inês, 16 dias depois.
1213 - 8 de maio: em São Leão, perto de S. Marino, conde de Chiusi, Orlando Cattani, oferece a Francisco o Monte Alverne (La Verna), perto de Arezzo, para servir de eremitério. É o monte da crucifixão de Francisco, em 1224.
1213 - ou 1214/15. Francisco pretende ir em missão a Marrocos, entre os muçulmanos, mas chega apenas à Espanha, onde adoece gravemente, retornando logo à Itália. Tomás de Celano "agradece a Deus esta doença", porque com a volta de Francisco, é recebido na Ordem (10 56).
1216 - Verão (junho-setembro): Francisco obtém do sucessor de Inocêncio III, o Papa Honório III, em Perusa, a indulgência da Porciúncula.
1217 - 5 de maio: capítulo geral de Pentecostes na Porciúncula. Primeira missão para além dos Alpes e ultramarina. Instituição de províncias. Frei Egídio vai para Túnis. Frei Elias para a Síria. Francisco pretende viajar para a França, mas o Cardeal Hugolino, legado papal na Toscana, encontra-o em Florença e o convence a permanecer na Itália.1219 - 26 de maio: capítulo geral de Pentecostes. Grandes missões no exterior: Alemanha, Hungria, Espanha, Marrocos, França. Em junho, Francisco vai de navio de Ancona para o Oriente, a exemplo dos outros. Óleo de Manuel da Costa Ataíde, no foro da Sacristia da Capela da Ordem III de São Francisco, em Mariana/MG Os que vão à França, interrogados se são albigenses, respondem afirmativamente, não sabendo que albigenses são denominados os hereges cátaros (puros) do Sul da França. O bispo de Paris e professores da Universidade, examinando a sua Regra, constata que a mesma é católica e evangélica. Dirigem-se, porém, ao papa, pedindo informações. Este declara-os católicos e com Regra aprovada pela Santa Sé.
Para a Alemanha viajam cerca de 60. Do alemão conhecem apenas a palavra "Ya" (sim). Perguntados se querem comida ou, hospedagem, respondem: "Ya". Perguntados se são hereges lombardos (pobres da Lombardia = Valdenses) e se vêm espalhar seus erros, também respondem: "Ya".
Presos, surrados, despidos, ridicularizados, sofrem como cães. Vendo que não podem produzir frutos na Alemanha, voltam para a Itália. Começam dai por diante a julgar tão cruel a Alemanha que só pelo desejo do martírio voltariam outra vez para lá.
Na Hungria também os missionários sofrem os maiores vexames. Quando vão pelos campos, os pastores atiçam os cães contra eles e dão-lhes cacetadas. Pensando que querem sua roupa, dão-lhes as túnicas exteriores. Depois as vestes... Acabam voltando para a Itália.
Os que vão para Marrocos, são martirizados e depois canonizados como os protomártires franciscanos (Beraldo, Pedro, Acúrsio, Adjuto, Otão: 1220). Movido por esse fato, Santo Antônio, então cônego regular de Coimbra com o nome de Fernando, pede ingresso na Ordem Franciscana.
1219 - Outono (setembro-dezembro): Francisco vai ao acampamento do Sultão do Egito, Melek-el-Kamel (1218-38), e tem "entrevista" com ele. A 5 de novembro, o exército dos cruzados toma Damieta, perto de Alexandria, no Egito. Francisco tem pouco resultado junto ao Sultão. Escreve o cronista que, ao chegar, é maltratado. ignorando a língua dos turcos, apenas diz: "Soldan, Soldan". Então é levado à sua presença e depois reconduzido por homens armados para junto dos exércitos que cercam Damieta.
1220 - Inícios: Francisco viaja para São João d'Acre (Accon), onde há uma fortaleza dos cruzados, e vai à Terra Santa. Na sua ausência, Francisco deixa dois "vigários", que, porém, começam a introduzir novidades na Ordem, instituindo novos dias de jejum e abstinência, além dos já marcados. Um frade, encarregado das clarissas, pede privilégios ao papa em favor delas, contra a vontade do santo, que prefere "vencer pela humildade mais que pelo poder da lei". Outro, subtraindo-se à Ordem, pretende fundar uma nova Ordem para leprosos de ambos os sexos.
1220 - Primavera ou verão (março-setembro): alarmado pelas notícias que um frade leva ao Oriente, retorna à Itália, desembarcando em Veneza. Nessa ocasião, o Cardeal Hugolino é nomeado protetor da Ordem.
1220 - (ou 1217-18?): Francisco entrega o governo da Ordem a Frei Pedro Cattani, como seu vigário.
1221 - Março: morre Frei Pedro Cattani.
Maio: capítulo geral de Pentecostes. Frei Elias de Cortona é eleito vigário em substituição ao falecido. Francisco apresenta a segunda Regra (Não-bulada ou não aprovada por bula papal), que Frei Cesário de Espira, versado em Sagrada Escritura, adornou com muitos textos bíblicos.
No fim do capítulo, Francisco, diz o cronista, lembra de novo a missão da Alemanha, fracassada em 1219. Pergunta se há voluntários. "Apresentam-se cerca de 90, inflamados pelo desejo do martírio (!), oferecendo-se à morte". Entre eles, o cronista que refere o fato, Frei Jordão de Jano e Frei Tomás de Celano, o biógrafo de São Francisco. Esta missão, mais bem preparada, dirigida pelo alemão Frei Cesário de Espira, tem sucesso.
1221 - Aprovada a Regra da Ordem Terceira Secular pelo Papa Honório III.
1221 - 1222 (?). Francisco faz uma viagem de pregação ao Sul da Itália.1222 - 15 de agosto: Festa da Assunção. Francisco prega em Bolonha (sede de estudos jurídicos). Suas palavras visam mais " extinguir inimizades e reformar os pactos de paz", conforme relata um ouvinte. "Muitas facções de nobres, entre os quais existia velha inimizade, com derramamento de sangue, foram levadas à pacificação".
1223 - Inícios: em Fonte Colombo, Francisco redige a 3ª Regra, que é discutida no capítulo geral de junho. A discussão continua em Roma, e em outubro Francisco se dirige ao Papa para pedir a aprovação.
29 de novembro: Honório III aprova, com bula papal, a Regra definitiva, ainda hoje em vigor. O texto original conserva-se como relíquia no Sacro Convento de Assis. Provavelmente houve colaboração dos frades e do representante da Santa Sé.
24/25 de dezembro: na noite de Natal, Francisco celebra a festa em Greccio, junto a um presépio.
1224 - 2 de junho: segue uma missão de frades para a Inglaterra. Bem-sucedida.
Em fim de julho ou início de agosto, o vigário da Ordem, Frei Elias é advertido (sonho, ou visão?), que Francisco terá ainda 2 anos de vida.
15 de agosto a 29 de setembro: Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, passa no Alverne, preparando-se com uma quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo. Em setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.
Em outubro ou inícios de novembro, Francisco retorna a Porciúncula, via Borgo San Sepolcro, Monte Casale e Città di Castello.
1224 - ou 1225, dezembro-fevereiro: cavalgando um jumento, Francisco faz um giro de pregações pela Úmbria e Marcas (Ancona).
1225 - Março: visita Clara em São Damião. Suas vistas pioram muito, então. Ele pretende ficar ali numa cela, ou na casa do capelão, mas, cedendo aos pedidos do vigário da Ordem, Frei Elias, consente em receber tratamento médico: a estação é muito fria, e o tratamento é transferido.
Abril ou maio: ainda em São Damião, Francisco recebe tratamento, mas não melhora. Recebe a promessa da vida eterna. Depois de uma noite dolorosa, atormentado pela dor e por ratos, compõe o Cântico do Irmão Sol. Junto a Santa Clara.
Junho (?): acrescenta uma estrofe ao Cântico do Irmão Sol, comemorando a reconciliação entre o bispo e o podestá de Anis: "Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam por teu amor, e suportam enfermidades e tribulações. Bem-aventurados os que sofrem na paz, pois por ti, Altíssimo, coroados serão".
Aconselhado por uma carta do Cardeal Hugolino, protetor da Ordem, deixa São Damião e vai para a vale de Rieti.
Inícios de julho: acolhido em Rieti pelo Cardeal Hugolino e pela corte papal (que lá está de 23/6 a 6/2), para submeter-se ao tratamento dos médicos da corte pontifícia. Vai a Fonte Colombo para tratamento, sob insistência do Cardeal Hugolino, mas o difere, devido à ausência de Frei Elias.
Julho ou agosto (?): em Fonte Colombo, o médico cauteriza as têmporas de Francisco, mas com pouco resultado.
Setembro: Francisco vai a S. Fabiano, perto de Rieti (Floresta), para ser tratado por outro médico, que opera sua vista. Restaura então a vinha do pobre padre, danificada por visitantes de Francisco.
1225 - De outubro deste ano a 1226, Francisco vive ora em Rieti, ora em Fonte Colombo.
Abril: vai, a Sena para outro tratamento.
Maio ou junho (?): volta à Porciúncula, via Cortona.
Julho-agosto: no calor do verão é levado para Bagnara, nas colinas perto de Nocera.

Fim de agosto ou inicio de setembro: piorando de saúde, é levado, via Nottiano, para o palácio do bispo de Assis. D. Guido acha-se ausente, em peregrinação ao Santuário de São Miguel, cuja festa se celebra no dia 29, no monte Gargano.
Sentindo iminente a morte, pede para ser levado para a Porciúncula. Chegado à planície, lança sua bênção sobre Assis. Nos últimos dias de vida, dita o Testamento, auto testemunho de incalculável valor para a vida e os propósitos de homem tão singular.
Com a proximidade da morte, pede que o deitem nu no chão. Depois aceita emprestado o hábito que o guardião lhe dá. Faz ler o evangelho da última Ceia e abençoa os filhos seus, presentes e futuros.
1226 - 3 de outubro, à tarde: Francisco cantando "mortem suscepit" (morreu cantando). No domingo seguinte, 4 de outubro, é sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre passa antes pelo mosteiro de São Damião, para a despedida de Clara.
1228 - 16 de julho: Francisco é canonizado. Relíquias trasladadas para a nova basílica, em construção, em 25 de maio de 1230.
No endereço abaixo poderão se aproximar mais da história de “Francisco”
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis 

Ana Lucia Mattiolli Noceti
www.caminhofranciscanodapaz.org

 
Os caminhos de São Francisco-14de Julho de 2019 e 15 de Setembro
MONTE ALVERNE - La Verna
Certa ocasião um conde disse para Francisco que era proprietário de uma montanha na Toscana, bastante erma e perfeitamente adequada para alguém que deseja se penitenciar num lugar isolado. A tal montanha, que o conde posteriormente cedeu a Francisco, chama-se Monte Alverne, junto a pequena vila de La Verna. Ali, onze anos mais tarde Francisco se tornaria a primeira pessoa deste mundo a receber os estigmas, as cinco chagas de Cristo em seu próprio corpo.
Para compreendermos Francisco por inteiro, é fundamental dirigirmo-nos, como ele fez, aos eremitérios.
Depois da sua conversão, Francisco dividiria seu tempo entre pregação nas cidades e o isolamento em grutas no topo das montanhas, onde jejuava, orava e falava diretamente com Deus.
Esses lugares representaram verdadeiros bálsamos para Francisco.
Sempre debilitado, ele precisava de tempo para se recuperar, tanto espiritual quanto fisicamente, de suas prolongadas viagens de pregação.
PIEVE SANTO STEFANO
Na parte da Toscana, que faz fronteira com a Úmbria, em um vale cercado pelas montanhas dos Apeninos, fica a pequena cidade de Pieve Santo Stefano.
A cidade foi quase completamente destruída em agosto de 1944, pelos alemães, quando se retiravam para o norte, diante dos avanço das forças americanas.
A rápida reconstrução do pós-guerra fez pouco para restaurar o antigo estilo arquitetônico da vila. Embora a guerra tenha destruído muito, ainda existem vestígios do passado que mostram a riqueza da história da área conhecida como Pieve Santo Stefano.
A pequena comunidade atrai visitantes do mundo todo que visitam o “Arquivo Nacional do Diário”, um verdadeiro museu dedicado à prática do registro diário.
São mais de 4000 escritos autobiográficos, memórias, diários e coleções de cartas não só da população local, mas de pessoas de toda a Itália, alguns com mais de 200 anos.
Ali se pode ler, por exemplo, cadernos de soldados nas trincheiras, cartas de amor do século passado, diários de crianças e jovens, e histórias dos migrantes.Um dos mais fascinantes dos diários é “A Folha” da camponesa Clelia Marchi contando a história de sua vida, pacientemente escrevendo com uma caneta após a morte de seu amado marido Anteo, usando os lençóis da cama que compartilhavam juntos. por tantos anos.
ERMO DE CERBAIOLO
Ermo de Cerbaiolo foi construído pelos frades beneditinos no século oitavo e doada para São Francisco em 1216, quando ele passava por Pieve Santo Stefano a caminho de La Verna.
Doze anos depois os frades aqui residentes receberam a visita de Santo Antonio de Pádua, que escolheu o lugar para um período de oração e penitência.
Sobre o leito de pedra, onde ele repousava, se construiu em 1700 uma capela.
No ano 1230, Santo Antônio de Pádua vai parar por um período de oração, retiro e penitência, mas também para terminar o seu "Sermorales", que o Papa lhe pediu para escrever.O ermitério foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial devido a confrontos entre partidários locais e tropas nazistas que tentavam usar o local como base de operações.
PASSO DI VIAMAGGIO
Muito conhecido desde a antiguidade romana, por ser uma importante via de comunicação entre Arezzo e Rimini, o Passo de Viamaggio tem seu nome na tradução latina de “Via Maior”. O que sugere a importância que os romanos atribuíam à via, considerada estratégica do ponto de vista militar.
Por aqui passaram grandes nomes da história, como Julio César e Marco Antonio
SANTUÁRIO DE MONTECASALE
Francisco se hospedou em Montecasale pela primeira vez em 1212, por ocasião de uma de suas muitas viagens.
O convento, doado no ano seguinte para Francisco pelo bispo de Città di Castello, era na ocasião um hospital e albergue para peregrinos.
Este convento abrigou São Francisco diversas vezes. Vários milagres e histórias edificantes se passaram aqui, sendo a mais famosa a história dos três assaltantes que se converteram e abandonaram o mau caminho.
Contam os biógrafos medievais, que certa ocasião alguns ladrões da região apareceram no eremitério pedindo comida. Os frades, indignados, os expulsaram dali. Tão logo soube do ocorrido, Francisco censurou ou companheiros. E, a título de penitencia, e de lição, mandou-os procurarem os ladrões e lhes oferecerem pão e vinho
Os ladrões ficaram sensibilizados com tal atitude, e passaram a viver pelo trabalho das suas próprias mãos. Um deles, inclusive, acabou se tornando frade.
No convento também estão as selas onde dormiram Santo Antonio de Pádua e São Boaventura. E a caverna, com um leito de pedra, onde São Francisco orava.
SANSEPOLCRO
Segundo a tradição, Sansepolcro foi fundada por dois peregrinos que retornaram de Jerusalém. Eles trouxeram consigo um fragmento do Santo Sepulcro de Cristo e construíram um oratório para guardar esta relíquia sagrada
O local do oratório tornou-se espiritualmente importante e começou a atrair pessoas, dando origem à cidade.
Sansepolcro é cercada por planícies férteis onde o tabaco é uma cultura importante. E foi em Sansepolcro que se construiu a primeira fábrica de massas da Itália, em 1827.
Mundialmente Sansepolcro é conhecida como a cidade natal do pintor renascentista Piero della Francesca. Algumas de suas obras podem ser vistas no Museu Municipal.
Sansepolcro presenciou um acontecimento importante no retorno de Francisco à Assis, após ter recebido as chagas no Monte Alverne. Francisco, que nessa altura já era considerado um santo vivo, foi ali recebido por uma multidão de devo
As pessoas se atropelavam na ânsia de ouvi-lo e vê-lo. Foi cercado por muitos doentes, que tentavam, ao menos, tocar-lhe a barra da túnica.
CITERNA
Citerna é uma bonita vila medieval com cerca de três mil habitantes. Situada em uma colina, tornou-se nos últimos anos uma popular estância de férias.
Em 1917 um forte terremoto derrubou a Igreja de São Giacomo bem como o Albergue de Santo Antonio, que hospedava peregrinos a caminho de Roma
Das ruinas do forte pode se apreciar um vasto panorama da região.
ERMO DE BUON RIPOSO
O Ermo de Buon Riposo, a poucas quilômetros de Città di Castello, fica escondido em uma colina, entre densas florestas de castanheiros.
Conta-se que em 1213, caminhando por esta região, Francisco o ganhou de um devoto cristão.
O primitivo ermitério foi durante muitos anos um local importante para os franciscanos. Aqui se hospedou São Francisco, e nos séculos seguintes vários outros monges considerados sagrados
Em 1864 os frades se mudaram para outro mosteiro; o convento e a igreja foram fechados e posteriormente vendidos a particulares que ainda possuem o lugar.
Quando Francisco esteve aqui, em 1224, as pessoas da região vieram vê-lo. Homens, mulheres e crianças se esforçavam para tocar e beijar suas mãos. E, não podendo recusar a devoção do povo, Francisco enfaixou as palmas das mãos para esconder os estigmas, deixando apenas os dedos expostos.
CITTÁ DI CASTELLO
Cittá di Castello é uma cidade muito antiga. Acredita-se que foi fundada no primeiro milênio antes de Cristo, pelos umbros ou etruscos.
A arquitetura atual da cidade é típica da Idade Média.
A Segunda Guerra Mundial teve efeitos devastadores sobre a cidade que sofreu 11 ataques aéreos na semana anterior à libertação pelos aliados, em julho de 1944. Foram destruídas pontes, ferrovias, obras hidráulicas, industriais e edifícios públicos.
Francisco sempre passava por Città di Castello quando a caminho do Monte Alverne. E costuma se hospedar no convento de Buon Riposo.
PIEVE DE SADDI
Próximo da cidade de Pietralunga está Pieve de Saddi, que tem grande importância por ter sido local de uma primitiva comunidade cristã no século três.
Da aldeia primitiva só restou a igreja, reconstruída no século onze.
Dentro da igreja está a cripta onde foi enterrado São Crescenziano.
São Crescenziano foi um soldado romano que pregava a fé cristã. Mas os soldados romanos eram proibidos de praticar o cristianismo, por isso ele martirizado em Pieve de Saddi, em primeiro de junho de 303.
GÚBBIO
Gubbio é uma das cidades mais antigas da Úmbria. Sua posição estratégica e o predomínio de famílias ricas deu a ela um importante papel político-econômico na área.
A cidade conserva um aspecto medieval; é grande o número de casas que datam dos séculos 14 e 15 que eram originalmente habitações de ricos comerciantes
No final dos séculos 15 e 16 desenvolveu-se em Gubbio uma valiosa arte em cerâmica, principalmente graças aos trabalhos do artista Giorgio Andreoli e seus dois irmãos. Suas obras estão entre as obras-primas do Renascimento italiano.As cerâmicas da Gubbio mantiveram ao longo do tempo seu caráter único e um forte apego às técnicas tradicionais e detalhes feitos à mão.
Os desenhos populares de dragão e pavão e a incrível louça de Gubbio têm um sólido grupo de fãs entre os amantes e colecionadores de cerâmica.três irmãos elaboraram uma técnica especial de brilho que lhes permitia obter bonitos efeitos policromaticos sobre o dourado e sobre o vermelho.
Apesar dos elevados custos e da produção limitada, nobres e ricos comerciantes se interessaram pelas obras.
Gúbbio é popularmente conhecida pela história de Francisco e o lobo. A história trata de um lobo que aterrorizava Gúbbio, matando o gado e fazendeiros.
Francisco decidiu enfrentar o animal pessoalmente. Ignorando os apelos da população partiu para a floresta e logo se deparou com o lobo. Os dois entraram em negociação de paz e o lobo se tornou dócil diante de Francisco
O lobo se comprometeu, inclinando a cabeça, a não mais agredir a população; e a população se comprometeu a alimentar o lobo
Daquele dia em diante o lobo parou de agredir a população; e passou a pedir sua comida de porta em porta. Todas as pessoas do vilarejo lhe davam alimento até o dia em que morreu.
ABBAZIA DI VALLINGEGNO
No topo de uma colina, a cerca de oito quilômetros de Gubbio, fica a Abadia de Vallingegno.
No século treze, ela pertencia aos beneditinos, que ficaram aqui por cerca de quatro séculos, até sua completa retirada em 1442. Posteriormente, o prédio foi vendido e é hoje um castelo de propriedade privada.
A abadia é lembrada atualmente por um episódio da vida de São Francisco:
Quando Francisco deixou Assis, em 1206, após ter devolvido suas roupas para o pai, ele seguiu para Gubbio vestindo apenas uma túnica.
No caminho, assaltado e surrado por bandidos, Francisco pediu ajuda na Abadia di Vallingegno. Mas, foi ali mal recebido pelos monges beneditinos, que o mandaram lavar pratos
Posteriormente, quando a reputação de Francisco como homem de Deus se propagou, o prior do mosteiro procurou Francisco e lhe pediu perdão pelo tratamento dado naquela ocasião.
EREMO DI SAN PEDRO IN VIGNETO
O mosteiro beneditino de São Pedro também está localizado na antiga via que ligava Assis a Gubbio.
Documentos testemunham sua existência em 1206 e a construção de um hospital para peregrinos em 1336.
É provável que São Francisco e seus companheiros tenham buscado hospedagem aqui já que este era o único caminho por onde eles poderiam ter passado quando em viagem por esta rota.
CASTELLO DI BISCINA
Na metade do caminho entre Assis e Gubbio está o Castelo di Biscina, que foi um dos pontos estratégicos no controle rodoviário da região.
Não se sabe exatamente quando foi construído, mas existem documentos que falam dele no século dez.
O castelo passou pelas mãos de vários proprietários ao longo dos séculos e sua estrutura foi constantemente remodelada. Atualmente o castelo é objeto de um projeto de restauração total pelos proprietários
Algumas versões históricas afirmam que o encontro de São Francisco com os ladrões, logo após deixar Assis, quando foi assaltado e agredido, se deu justamente nos bosques deste castelo.
LA BARCACCIA
Neste local existia um hospital no século dezessete. Também funcionava uma alfândega que controlava a travessia do Rio Chiascio. Ainda se pode ver um velho barco que fazia a travessia.
Atualmente a propriedade pertence a particulares. Senhor Ernesto, faz questão de mostrar aos peregrinos que transitam por aqui as plantas que ele cultiva, sua vinha e a antiga adega.
VALFABBRICA
Valfabbrica é uma pequena cidade localizada doze quilômetros ao norte de Assis. A cidade se desenvolveu ao redor do mosteiro beneditino de Santa Maria.
O antigo mosteiro, documentado desde o ano 820, esta situada ao longo da estrada que ligava Assis a Gubbio, itinerário muitas vezes percorrido por São Francisco, que costumava se hospedar com os monges.
Alguns biógrafos afirmam que São Francisco, após romper com o pai e deixar a cidade de Assis, se hospedou inicialmente nesta abadia
Os beneditinos contribuíram bastante com a economia local, principalmente cuidando da drenagem dos pântanos ao redor do rio Chiascio, que se tornaram terras agrícolas férteis.
ASSIS
Cerca de cinco milhões de pessoas visitam Assis anualmente. A maioria compõe-se de religiosos e peregrinos do mundo inteiro que vêm fazer suas orações na cidade natal de São Francisco e Santa Clara.
A presença de Francisco e Clara se faz sentir por toda a cidade. Ambos os santos nasceram aqui – Francisco, em 1811; e Clara, em 1193. E ambos aqui estão enterrados, em suas respectivas basílicas.
BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO
A Basílica de São Francisco é na verdade um conjunto de duas igrejas. A igreja superior, onde estão os afrescos de Giotto descrevendo a vida de São Francisco, e a igreja inferior, que contém o tumulo do santo
Os vinte e oito afrescos de Giotto que retratam a vida de São Francisco, na igreja superior, talvez sejam o mais famoso conjunto de afrescos narrativos de todo o mundo. A conhecida história se desenrola ao longo das paredes: Francisco, nu, enfrentando o próprio pai; Francisco pregando para os pássaros; Francisco expulsando o demônio de Arezzo; Clara despedindo-se de Francisco morto.
Tão grande era o medo de que o corpo de Francisco fosse roubado, em razão do seu incalculável valor como relíquia, que o esquife com seu corpo foi escondido nas profundezas de um túnel no subsolo da basílica. Permaneceria ali por seiscentos anos, até ser retirado em 1818.
BASÍLICA DE SANTA MARIA DEGLI ANGELI
Para proteger a pequena igreja da Porciúncula e acolher os numerosos peregrinos que se dirigiam ao lugar, entre 1569 e 1679 foi construída, sobre a Porciúncula, a grande Basílica de São Maria degli Angeli. Maria degli Angeli.
A Porciúncula é o lugar mais sagrado dos franciscanos. Foi aqui que o jovem Francisco compreendeu sua vocação e renunciou ao mundo para viver na pobreza.
Com apenas três metros por sete, a igrejinha recebeu o nome de Porciúncula porque ocupava uma pequena porção de terra.
A aura espiritual da surrada igreja calava fundo no coração de Francisco. Ali ele passou a morar. Amava o lugar mais do que qualquer outro no mundo.
Esta pequena igreja foi dada a Francisco por volta de 1208 pelos beneditinos, estava abandonada e em mau estado. Ele restaurou-a com suas próprias mãos. O interior é simples, algumas das pedras foram postas aqui pelo próprio santo.
Após a morte de Francisco, o valor espiritual e o carisma da Porciúncula tornaram-se ainda maiores. O próprio São Francisco apontou a Porciuncola como fonte primária de inspiração e modelo para todos os seus seguidores. Hoje, continua a ser o mais autêntico testemunho da vida e da mensagem de São Francisco. São Francisco havia dito para seus frades que a Porciúncula deveria ser a principal fonte de inspiração e um modelo para todos os seus seguidores.
Passados oitocentos anos, nenhuma outra igreja é mais associada a São Francisco do que a pequena Porciúncula. Foi ali que ele acolheu a fugitiva Clara, ali ele passou dezoito anos de sua vida, na companhia de outros frades. Ali ele morreu em 1226.
IGREJA DE SÃO DAMIÃO
A igreja de São Damião não tem uma grande importância sob o ponto de vista artístico, especialmente se compararmos com algumas das basílicas de Assis; no entanto, é um lugar que está fortemente ligado às histórias de São Francisco e Santa Clara.
Em 1205, a igreja estava semidestruída. O jovem Francisco entrou nela e começou a rezar diante de um crucifixo bizantino. De repente, o Cristo do crucifixo, falou para ele: “Vai, Francisco, e restaura a minha igreja, como vês ela está em ruínas”.
Francisco tomou estas palavras literalmente e começou a reformar a igreja com suas próprias mãos
Com o tempo, Francisco entenderia que o Senhor estava pedindo a ele para reconstruir a igreja como um todo, no sentido espiritual, e não só a igreja de São Damião.
SÃO DAMIÃO – ST CLARA
Em 1212, quatro anos após terminada a reconstrução da igreja, Francisco instalou Clara em São Damião, com o consentimento do bispo de Assis.
Em 1257, depois que o corpo de Clara foi transferido, as Clarissas deixaram San Damiano para San Giorgio e levaram o crucifixo com eles. Eles guardaram cuidadosamente por 700 anos na capela do claustro. Morreu neste local no dia 11 de agosto de 1253.
O Crucifixo de São Damião foi levado pelas Clarissas ao Mosteiro de Santa Clara em Assis, onde ainda é venerado
Cerca de cinquenta mulheres juntaram-se a Clara em São Damião; entre elas, encontravam-se a mãe e irmã da própria Clara.
Elas preenchiam o tempo cuidando de doentes, cultivando hortaliças e grãos, executando tarefas de rotina no convento e, oito vezes ao dia, dedicando-se à contemplação e às orações. Comiam muito pouco, jejuavam quase constantemente, a não ser no Natal, quando se permitiam duas refeições.
BASILICA DE SANTA CLARA
A Basílica de Santa Clara abriga os restos mortais de Santa Clara e algumas relíquias.
A construção da igreja se iniciou em 1257, três anos depois da morte de Clara e um ano depois dela ter sido canonizada.
O interior tem o mesmo layout da Basílica Superior de São Francisco, com uma única nave.
O vasto interior está permanentemente lotado de pessoas que visitam o túmulo de Santa Clara.
Depois de ter permanecido escondido por seis séculos - como os restos mortais de São Francisco - o túmulo de Clara foi encontrada em 1850. No dia 23 de setembro daquele ano o caixão foi desenterrado e aberto, a carne e a roupa do santo foram reduzidas a pó, mas o esqueleto estava em perfeito estado de conservação.
O corpo da santa está em exposição na extremidade leste da cripta, com o rosto protegido por uma camada de cera.
ERMO DE CARCERI
Localizado quatro quilômetros acima de Assis, nas encostas do Monte Subásio, Ermo de Carceri era um lugar onde São Francisco e seus frades se retiravam para orar e meditar.
O atual mosteiro foi construído em torno da gruta habitada por São Francisco, entre 1205 e 1206, quando ele começou a frequentar a montanha. Com a chegada de novos companheiros outras grutas da floresta passaram a ser habitadas.
São Francisco dedicou sua vida às pregações, mas retornou aqui várias vezes, durante sua vida, para orar.
Nos séculos seguintes, vários edifícios foram adicionados ao redor da caverna de São Francisco, formando o importante complexo que existe hoje.
Il Sacro Tugúrio
Francisco ficou em Rivotorto por volta de 2 anos, entre a ida para São Damião e a Porciúncula.
Hoje é uma igreja que foi construída ao redor de 2 pequenas celas, com alguns bancos de madeira estreitos dentro, uma ao lado da outra. Era uma estrebaria e era exatamente ai que eles oravam, dormiam, comiam e cuidavam dos leprosos.
Foi ali que também apareceu a carruagem de fogo
Uma noite, Francisco estava orando com alguns dos irmãos, enquanto os outros dormiam. De repente, uma magnífica carruagem de fogo veio e varreu a casa em um momento de glória. Os irmãos que a viram ficaram maravilhados. Os dormentes acordaram apavorados. Mas todos sabiam que o Espírito de Deus desceu do céu e estava presente entre eles. O santo aparece a seus companheiros como o guia e o novo líder do cristianismo.Depois desse episódio, S Francisco decidiu ir até o papa em Roma pedir permissão para criar sua própria Ordem


Ana Lucia Mattiolli Noceti
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19de Julho de 2019
Carissimi pellegrini...
Buono finale di settimana....
Contemplar é uma maneira de pôr em ação, na vida diária, todas as nossas forças, todos os nossos sentidos para descobrir em cada coisa a presença do “criador”, descobrir que Ele está presente.
Caminhar na contemplação tem o domínio do tempo, absorve-o e detém a eternidade, como um oceano de luz é feito de desejo, acolhimento, passividade, entrega... Um processo amoroso que unifica o ser.
Assim, contemplar poderia ser definido, acima de tudo, como abertura do coração ao mistério que nos envolve, para deixar-nos possuir por ele. E desse modo poderíamos dizer que caminhar em passo contemplativo é;
... Esvaziar-se de todo o supérfluo para que Aquele que é o Tudo nos encha até transbordar.
... É abrir pouco a pouco os olhos do Coração para poder ler e descobrir a presença do Senhor nas facetas da criação.
... É abrir os ouvidos da alma para escutar no silencio dos passos a vida e seus mistérios nos falando sobre a sua história.
... É fazer silêncio de palavras para que fale o olhar, como o de uma criança, para que falem as mãos abertas ao compartilhar, para que falem os pés que com o passo cruzem fronteiras como os de um missionário, para que fale o coração transbordante de paixão pela humanidade, como falaram os corações enamorados de Francisco e Clara.
... É entrar na cela do próprio coração e, desde o silêncio habitado, deixar-se transformar pelo amor.
Sugiro abaixo leitura e filme que me conduziram mais a vida contemplativa do querido “Francisco”.
Livros
O Irmão de Assis – Autor - Inácio Larrañaga - Editora Paulinas
Eu, Francisco – Autor – C.Carretto – Editora Paulus
Filmes

Irmão sol, irmã lua - 

Clara e Francisco
CLARA E FRANCISCO _ 1ª.PARTE
http://www.youtube.com/watch?v=10t-pozIKPo
CLARA E FRANCISCO – 2ª.PARTE
http://www.youtube.com/watch?v=gfFkIVn6378
ASSIS (ASSISI)

Assisi, encravada sobre o longo contraforte ocidental do monte Subasio (1 290 mt), domina a sugestiva vale do Topino e do Chiascio. O aspecto medieval, com ruas estreitas e tortuosas, frequentemente em subida, a atmosfera de mística paz, as lembranças franciscanas e as numerosas obras de arte, fazem de Assisi uma das metas mais frequentadas por pelegrinos e turistas. Numerosas e sugestivas festas tradicionais se festejam ali durante a Semana Santa, na noitinha das festas do primeriro de maio e na ocasião do perdão de Assisi.

Nos redores, o ermo de São Francisco conhecido como Le Carceri.
Em setembro de 1997 Assisi sofreu gravíssimos danos causados por um terremoto que destruiu numerosos municípios umbros e marquegianos. O arco da Basílica Superior da Igreja de São Francisco desabou parcialmente, provocando vítimas. Muitas obras de arte foram danificadas. Além desta basílica, sofreram danos também a Catedral de San Ruffino, a Igreja de San Giorgio, Santa Maria Maggiore e a Abazia de San Pietro. A restauração começou imediatamente após o desastre e muitas construções já foram recuperadas, ou seja, no possível, ao próprio estado original.
A cidade de Assisi antigamente chamada Asisium como centro dos umbros, foi município romano e crescente libero Comune, ou município livre, no período medieval. Não obstante uma tenaz resistência, caiu sob a dominação de Perugia e foi submetida a várias nobrezas, até que foi diretamente submetida à Igreja.
Ali nasceram o poeta latino Properzio e os santos Francisco (1181) e Chiara (1198).
Com o nome de Ascesi foi cantada por Dante (Paragrafo XI, 53).
A romanidade de Assisi é testemunhada pelo templo de Minerva (atualmene Santa Maria sopra Minerva, na praça principal e relembrado também em um dos afrescos com as histórias de São Francisco na basílica dedicada ao Santo), também, pelos restos do fórum, de um teatro e de um anfiteatro, e, de uma casa com afrescos.
As casas medievais, gravemente danificadas pelo terremoto de 1997, apresentam –se em pouca quantidade nas breves praças, nos palácios públicos (do Capitano del Popolo, dei Consoli, dei Priori), no pórtico del Monte Frumentario (1267) e nas igrejas românicas e góticas de San Rufino (duomo), Santa Maria Maggiore, San Giacomo, San Giorgio (no convento de Santa Chiara), Santa Maria delle Rose, San Pietro, Santa Chiara.
Mas, o complexo monumental pelo qual toda a cidade se alonga é a Basílica de São Francisco, consagrada em 1253, anexada ao convento. É uma interessante construção, consta de duas igrejas sobrepostas em uma única navada, a qual decoração concorreram os maiores artistas do 1200 e do 1300 com ciclos de afrescos bíblicos, evangélicos, franciscanos: desde Cimabue (que operou no transepto, no lavabo, e nas velas da arcada da igreja superior e que deixa uma Madonna e São Francisco naquela inferior) a Giotto (histórias do santo na navada da igreja superior), também Pietro Lorenzetti (igreja inferior), Simone Martini (capela de San Martino na igreja inferior). Um afresco de Giotto (San Girolamo que ensina a um Chirieco) e um de Cimabue (Sao Marcos e a Italia) foram completamente destruídos para sempre por causa do terremoto. Os outros afrescos não sofreram danos irreversíveis.
Pertencentes ao renascimento são o porticado da praça de São Francisco, os oratórios de San Bernardino e dos Pellegrini, a reconstruída casa dos Maestri Comacini, as fontes Marcella e Oliviera. Do XVII ao os palácios Bernabei, Giacobetti e Vallemani e a Igreja Nuova.
Notáveis são o Museu Civico Archeologico sistemado na cripta românica de San Niccolò; a Pinacoteca Comunale no Palácio del Comune; o Museu Capitolare com o tríptico de Niccolò Alunno, preciosos afrescos do 1300 separados da Igreja de San Rufinuccio, e também ourivesaria e ornamentos; o tesouro do sagrado convento de São Francisco; o Museu da Basílica de Santa Maria degli Angeli (celebrado e amado lugar para pelegrinar porque neste se encontra a Porziuncola, construida no XII, foi o primerio oratório de São Francisco e dos seus co- irmãos em 1209, mas também o lugar no qual o Santo morreu em 1226) com a cruz pintada por Giunta Pisano e outras obras.
Assis
É uma cidade (e comuna italiana) e sé episcopal no flanco ocidental do Monte Subasio, na região da Umbria, província de Perugia, com cerca de 24.443 habitantes. Estende-se por uma área de 186 km2, tendo uma densidade populacional de 131 hab/km2. Faz fronteira com Bastia Umbra, Bettona, Cannara, Nocera Umbra, Perugia, Spello, Valfabbrica, Valtopina.
É famosa por ter sido o local de nascimento de São Francisco de Assis (Francesco Bernadone), que aí fundou a Ordem dos Franciscanos em 1208, e de Santa Clara (Chiara d'Offreducci), fundadora da Ordem das Clarissas.
A cidade de Assis e zonas circundantes têm cerca de 25600 habitantes numa área de cerca de 187 km²; a cidade propriamente dita, tem cerca de 5500 residentes.
A basílica de São Francisco de Assis é um edifício classificado pela UNESCO como Património Mundial. O mosteiro franciscano e a basílica inferior e superior de São Francisco começaram a ser erigidos logo a seguir à sua canonização em 1228, tendo ficado completos em 1253. A basílica inferior tem afrescos de Cimabue e a superior do seu discípulo Giotto que retratam cenas da vida do santo.
Em Outubro de 1986 e Janeiro de 2002 o Papa João Paulo II reuniu em Assis com líderes das grandes religiões do mundo para orações conjuntas pela paz.
O Paradigma de Assis
A Jornada Mundial de Oração pela Paz, realizada em 1986 na cidade de Assis (Itália), constitui um marco fundamental no campo do diálogo inter-religioso. Pela primeira vez na história, inúmeras lideranças religiosas mundiais encontram-se para juntos rezar e testemunhar a natureza transcendente da paz. Os que participaram da experiência são unânimes em afirmar o seu caráter extraordinário. Na opinião do Dalai Lama, o encontro de Assis resultou extremamente benéfico, pois "simbolizava a solidariedade e um compromisso com a paz demonstrado por todos os que participaram" . Ao mencionar o evento, João Paulo II afirmou que a sintonia de sentimentos que ali ocorreu provocou a vibração das "cordas mais profundas do espírito humano" . Ali estavam, lado a lado, os cristãos das várias Igrejas e comunidades eclesiais e representantes de outras tradições religiosas, como companheiros no caminho comum, em atitude de oração, jejum e peregrinação.
Pace e bene!




Ana Lucia Mattiolli Noceti
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19 de Julho de 2019
Francisco em todos os tempos
Todo homem é herdeiro da cultura de seu tempo. A história do comportamento humano atesta as congruências e as incongruências de valores, consequentes das opções culturais, das formas de domesticação social, dos interesses de classes e do exercício de poder.
Nas diferentes culturas deparam-se diferentes maneiras de traduzir os três grandes relacionamentos, que o ser humano estabelece no processo de sua realização, em busca da identidade e segurança pessoal e social: relacionamento do homem com o cosmo, do homem com o homem, e do homem com o Criador, em concomitância e simultaneidade, com expressões de preferências, conforme, como diz Francisco de Assis, os diferentes tempos e lugares.
Francisco de Assis propõe uma cosmovisão, uma antropovisão e uma teovisão próprias, como tentativa de superação da experiência cultural cristã que herdou, e lhe pareceu insatisfatória.
Diferente de sua tradição familiar e da tradição do homem de seu tempo imaginou nova forma de viver para si, para seus frades e para aqueles que pretendessem tornar própria a filosofia de vida.
A fraternidade, como partilha de vida entre irmãos, conseqüente da consciência existencial de dependência e incompletude, a par da necessidade de ascender ao Absoluto como capacidade inata, torna-os proposta a todos os homens.
Sem desconhecer as formas de relacionamento do homem de seu tempo com a natureza, com os semelhantes e com o Absoluto, apresenta uma forma própria de vida, com pressupostos teológicos e espirituais diferentes dos de seu tempo. "A vida e Regra dos frades Menores é esta: Observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade".
Projeto simples, aparentemente ingênuo, que lhe valeu o apelativo de louco. Mas, sem abdicar de suas idéias e sem perder esperanças, torna e retorna ao Santo Padre, que passa a entendê-lo como um especial dom do Espírito Santo há seu tempo e, talvez, há todos os tempos. Francisco torna-se reformador da sociedade, com sua forma de viver.
Questiona, não por palavras, nem por críticas, mas por sua forma de vida, os valores da própria família, da sociedade e da Igreja. A fé, testemunhada no acolhimento fraterno do irmão leproso. "Foi assim que o Criador concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência. Parecia-me deveras insuportável olhar para os leprosos. Mas o Senhor me conduziu no meio deles e eu tive misericórdia deles". O Francisco, que inicialmente fora tido como louco, passa a ser entendido como o homem inspirado e conduzido pelo Criador.
A liberdade e autonomia pessoais vivem-as como contemplação da natureza, fraternidade com os pobres, dependência e radical entrega ao Absoluto. "O Criador me revelou o que eu devia fazer ." Sua pergunta de intencionalidade da própria vida, passa a ser o Senhor, que queres que eu faça. Não abdica de seus ideais pessoais, mas os aperfeiçoa a luz do Senhor.
As ciências físicas, matemáticas, biológicas, espaciais proporcionam ao homem o domínio sempre mais completo do cosmo.
Francisco, mais que explicação da origem das coisas criadas, busca a integração com o cosmo que culmina na contemplação da Causa última. "Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e com sua luz nos ilumina (Cântico do Irmão Sol, 3)."
Olhando as criaturas, sob o prisma da sua origem, as sublima, nivela-se a elas e proclama a grandeza do Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor (Cântico ao Irmão Sol, 1). Contempla, louva e agradece ao Senhor das criaturas. "Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas (Cântico ao Irmão Sol, 3)." Quer dizer Tu e tuas criaturas.
Descobre a minoridade. O ser frade menor significa ser menor não somente em relação aos outros homens, mas também em relação às próprias criaturas. É uma minoridade cósmica e humana. Menores, porque os últimos dos irmãos, tendo como única riqueza a consciência da própria indigência, originária da condição de pecador.
Menor em relação às próprias criaturas, porque o homem, pela liberdade, pode firmar-se no erro, como aceitar a libertação da graça, enquanto a natureza lhe parece liberta desta dolorosa duplicidade. "Toda a natureza, como a irmã água, é útil, humilde, preciosa e casta (Cântico ao Irmão Sol, 7)." Mas, só do homem se diz, diante da Irmã morte: "Ai de quem morrer em pecado mortal (Cântico ao Irmão Sol, 13)." Como pode alguém vangloriar-se, se "só Ele (o totalmente Outro) é bom" (Lc 18,19)?!
O estado de aliteração cósmica (dependência do aliter, daquilo que está ali, fora do âmbito da própria consciência), o cientista o supera pelo conhecimento das leis que regem a natureza.
Francisco não desconhece as conquistas da ciência. Mas serve-se delas para o encantamento, louvor e ação de graças do totalmente Outro (Alter), presente no mundo criado, com seus mistérios, enigmas e leis.
Enquanto o cientista familiariza o mundo pelo conhecimento, Francisco o vive e sublima pela contemplação d’Aquele que é sua origem, princípio e fim.
Enquanto o cientista proporciona saberes sobre as coisas, Francisco faz aliança com o mundo criado, empresta-lhe palavras humanas, para realizar o diálogo existencial da criatura com o Criador.
A ciência, em princípio, é neutra. A contemplação, como a entende Francisco, ultrapassa a ciência, reveste-se do calor e da emoção de intencionalidades, que justificam a consciência e convivência do homem com a natureza.
A contemplação, em Francisco, é o novo princípio do cientista e do cristão, chamados a conduzir e ordenar a terra com tudo o que nela existe (Cântico ao Irmão Sol, 9).
Dar intencionalidades ao cosmo, eis o que diferencia a ciência da sabedoria. O bem-aventurado Jacopone assim precisa o conceito de Francisco: "Ciência adquirida, produz mortal ferida, se não for vestida de um coração humilhado". Porque a ciência sem as intencionalidades é vazia. O Criador mesmo reparte sua providência sobre o universo com as intencionalidades do próprio homem. "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra" (Gn 1, 26).
Coração humilde diante do "Louvado sejas meu Senhor, com todas as tuas criaturas" (Cântico ao Irmão Sol, 1). O Senhor e suas criaturas, dentre as quais o frade é o menor! Simplicidade, humildade, pobreza são, para Francisco, expressões de prudência e de objetividade. Quem tudo recebeu, e perdeu o controle da própria harmonia pelo erro, não pode vangloriar-se como se nada recebera.
Sempre mais o mundo se torna também obra do homem que, não obstante reconheça suas leis inexoráveis, não as tem como inacessíveis, mas busca manejá-las, colocando-as a seu serviço.
Enquanto, para o homem da ciência, o conhecimento da natureza o liberta da aliteração, do desconhecido, para Francisco o conhecimento da natureza se constitui caminho à maior integração cósmica, culminando no aperfeiçoamento contemplativo do "Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas" (Cântico ao Irmão Sol, 3).
A ciência, sem a fé, esvazia a natureza de sua dimensão sagrada. Mas a ciência, iluminada pela fé, faz do cientista um humilde cantor da natureza e do seu Criador. "Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas" (Cântico ao Irmão Sol, 3). A ciência descortina as leis do cosmo; a fé contempla a grandeza do universo e do seu Criador. Não separa criatura do Criador. A ciência se une às criaturas para louvar o Criador.
O estado de aliteração cósmica fazia com que o homem vivesse em função da natureza, protegendo-se dela em momentos em que lhe podia ser adversa, e, em outros, tentando dominá-la e colocá-la a seu serviço, pela conquista do conhecimento de suas leis.
No estado de aliteração cósmica, o homem realiza sua vocação de aperfeiçoar a natureza, afirmando sua capacidade inata de descobrir seus segredos, sem, porém, encontrar a resposta direta a seu eu pessoal.
Na alteridade ou alternação (relação com o alter), começa a resposta à pergunta pessoal. Na relação humana do eu para o tu, é possível condividir, partilhar, estabelecer reciprocidades e mutualidades.
A minoridade é, também no relacionamento, na alteridade, a forma evangélica de relacionamento humano, que Francisco propõe através da fraternidade.
Minoridade não significa dependência, nem sujeição passiva, mas obediência ao eu pessoal, onde se explicitam as condições de indigência e erro, em concomitância aos desafios da graça. "o Criador deu a mim, Frei Francisco, a graça de assim começar a fazer penitência..."
Na base de sua Regra, Francisco busca as razões de sua identidade menor. "Assim como o Senhor me concedeu dizer e escrever de modo simples e claro a Regra e estas palavras, assim as entendais, com simplicidade e sem comentário, e observai-as com santo fervor até o fim. E todo aquele que as observar seja no céu cumulado com a bênção do Criador, e seja cumulado na terra com a bênção de seu Filho dileto, em unidade com o Espírito Santo Paráclito, com todas as virtudes do céu e todos os seus santos. E eu, Frei Francisco, o menor de vossos servos, vos confirmo, quanto posso, interior e exteriormente, esta santíssima bênção" (Testamento, 13).
A inter-personalidade, em Francisco, tem sua razão na minoridade. Quem se considera mais que os outros, presume ter algo a dar, mas carece da capacidade de receber. Quebra, por isso, o fundamento da fraternidade que, segundo o apóstolo, se traduz no amor recíproco. "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco..." (Rm 13,8).
No "conhece-te a ti mesmo," Sócrates colocou o princípio do saber pessoal, do ser pessoa. Se difícil é conhecer a si mesmo, mais difícil ainda será conhecer o outro com sua história pessoal. Mas o âmbito cognitivo não é o lugar onde reside a maior problemática humana, mas sim o âmbito inter-relacional.
A auto-imagem tem embutida a étero-imagem. O eu diz respeito ao tu, no processo do auto-conhecimento. O eu, sem o tu, é inexpressivo e imerso em nebulosa solidão
Quando o tu era apenas o cosmo, o eu do homem revestia-se de temor, de indagações frente ao desconhecido, sem mutualidade de resposta, era apenas desafio à inteligência. O eu pessoal, sem o tu, também pessoal, remanesce na solidão, embora em meio à multidão humana.
Como diante do tu cósmico, também diante do tu pessoal, Francisco aponta para a pobreza radical, para a minoridade, disponibilidade e caridade fraterna. "Tudo o que desejardes que os homens façam a vós, fazei-o também vós a eles" (Mt 7,12) e ainda: "Guarda-te de jamais fazer aos outros o que não quererias que te fosse feito" (Tb 4,16)
A consciência da pobreza originária do eu é o princípio do amor, compreensão, dedicação e perdão. E a caridade que se devem mutuamente, mostre-na por obras, segundo diz o apóstolo (1Jo 3,18): "Não amemos de palavras nem de língua, porém de obra e verdade" (Regra não-bulada, cap. 11, 5).
Para afirmar o eu pessoal é necessário afirmar o eu dos outros, que complementa e dá sentido ao eu pessoal. A identidade é um processo que se constitui das relações que vamos formando no curso da vida. Somos da maneira como nos sentimos e da maneira como os demais nos percebem. Auto-imagem e auto-estima dizem formas de relacionamento.
Francisco tem consciência de que o processo de identidade de cada um tem as marcas da pobreza radical e da contingência histórica do erro, e pode iludir-nos no relacionamento com os irmãos. Acena, então, a uma forma de relacionamento que garanta segurança e realização pessoal.
Deter poder, basearem-se no ser mais que os outros, impediriam o fluir do amor fraterno, empobrecendo o eu pessoal da capacidade receptiva da graça que procede de uma força maior por meio dos irmãos. "E igualmente, nenhum irmão exerça uma posição ou um cargo de mando, e muito menos entre os próprios irmãos. Pois, "Os príncipes das nações as subjugam e os grandes imperam sobre elas" (Mt 20,25), assim não deve ser entre os irmãos, mas antes: "Aquele que quiser ser o maior entre eles, faça-se o menor" (Lc 22,26). E nenhum irmão trate mal a outro irmão, nem fale mal dele. Antes sirvam e obedeçam de bom grado uns aos outros na caridade do Espírito (Regra não-bulada, cap. 5).
A aliteração cósmica, como relação material com a natureza, não atende às necessidades do eu pessoal. A alternação, também, como relação material do eu ao tu, responde em parte às expectativas do eu. Só será resposta satisfatória se envolver a oblatividade da reciprocidade do amor. É que a visão e relação com o outro só do ponto de vista da necessidade pessoal, pode ser tão temporário quanto a própria necessidade. Já o outro, por sua mesma natureza limitada, será resposta em parte satisfatória e em parte não. A resposta só será completa se o outro, como resposta e complemento do eu, conduzir à plenitude da alteridade, no totalmente outro, como plenitude do Tu e satisfação completa do eu criado.
Francisco, em colocando o poder, a autoridade, a precedência na linha do serviço e da obediência ao ser presente no irmão, torna o tu da inter personalidade humana, como mediação, como encarnação do Tu pleno, do totalmente Outro. É da mediação e na mediação do tu contingente, que se revela a transcendentalidade, em direção ao Absoluto. "E nenhum irmão trate mal a um outro, nem fale mal dele. Antes sirvam e obedeçam de bom grado uns aos outros na caridade do Espírito. E esta é a verdadeira e santa obediência de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Regra não-bulada, cap. 5, 16).
Portando encontrar o a sua imagem no irmão, amar o irmão, com sua história pessoal, é dar continuidade ao que também se fez história humana, e fez sua a nossa própria história. São os dois pólos da obediência franciscana, na mediação do tu humano, em direção ao Tu absoluto. É a transcendentalidade que flui a partir da transpersonalidade.
Seja pela aliteração cósmica, seja pela alternação humana, Francisco faz do mundo criado degrau de ascender ao Criador.
A proposta de Cristo é relacionar o homem com o próprio homem, na perspectiva do amor, independente do provisório concreto. Amar a todos como irmãos significa globalidade do tu humano. Não é amar de forma pagã, "aqueles que nos amam e estimam," mas a todos. "Atendamos todos, irmãos, ao que diz o Senhor: "Amai os vossos inimigos e fazei bem a todos os que vos odeiam" (Mt 5,44), pois Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas pegadas devemos seguir (1Pd 2,21), chamou de amigo o seu traidor e se entregou de livre vontade aos que o crucificaram. São pois nossos amigos todos os que injustamente nos infligem tribulações e angústias, opróbrios e injustiças, dores e tormentos, martírio e morte. A esses devemos amar muito, porquanto pelo mal que nos fazem, teremos a vida eterna" (Regra não-bulada, cap. 21).
Francisco coloca, pois, o tu humano como mediador de nosso destino supremo, de nossa vocação ao totalmente Outro.
A vida franciscana é uma conseqüência radical do convite de Cristo para viver, em toda extensão, o preceito do amor. O amor desinteressado do próximo, por causa do Filho de Deus feito natureza humana, torna-se o momento de manifestação de Deus, o sumo bem, o perfeito amor, o verdadeiro Pai nosso que está nos céus.
O ser fraterno, na visão franciscana, parte do conceito de minoridade, não de sujeição, nem de dependência. É a busca do irmão, porque ele tem uma manifestação particular de Deus. Comunicar-se, fazer comunhão com o irmão é encontrar o Senhor, sob as diferentes formas como se faz presente na vida humana. O Cântico das Criaturas é um louvor ao Deus da criação, portanto presente no cosmo, e na pessoa de modo especial, porque é na pessoa que passa a ser entendido como o Deus enamorado do ser humano. Por isto, a pregação franciscana será sempre, para ser tal, uma pregação e uma filosofia de amor, paz e fraternidade. Deus encontrado, visto, conhecido e sentido no irmão, com suas circunstâncias próprias, é o Deus da encarnação proclamado por Francisco.
A grande relação, aquela que responde a toda a ânsia, a toda a expetativa humana, que pode dar o necessário e suficiente amor ao ser humano, pela certeza e segurança do acolhimento e da quietude, é a relação transcendente, ou seja o diálogo começado com o cosmo, plenificado na pessoa humana, culminando no Encontro com o Absoluto, ante o qual tudo o mais passa a ser mero degrau. "Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele" (I Jo 4,16).
O encontro com o Deus-amor, para Francisco, percorre o caminho do irmão. Depois de entender a forma como Deus se manifesta, derrama seu amor em cada ser humano, e em toda a criação, conclui-se que só Ele é o amor pleno e perfeito.
Enfim o Senhor.
Por passos, depois de dizer, olhando para o mundo: "Todas estas coisas vêm do Senhor, por isto louvam o Senhor; todas as pessoas são a imagem do Senhor, por isto vivem para o Senhor: Francisco exlama: "Meu Senhor e meu Deus, meu Deus e meu Tudo!"
Proclama, assim, o grande processo da encarnação de Deus no mundo, na passoa humana com vocação ao definitvo encontro com o Deus-Amor, cujo Espírito está derramado em todos os corações. "Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem o Espírito do Senhor. Se Deus, por meio dele, operar alguma boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu é sempre inimigo de todo o bem, mas antes considerar como ele próprio é insignificante e se julgar menor que todos os homens" (Admoestações, 12).
O progressivo domínio do cosmo pelo conhecimento das leis que o regem; a descoberta do outro como resposta interpessoal provisória e mediadora, leva o homem ao grande salto da transcendência, face ao Absoluto, junto ao qual somente o homem pode se entender a si mesmo, entender seus irmãos e fraternizar sua própria vida e história com o Deus da vida. "Eu vim para que todos tenham a vida, e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Quer dizer, segundo Francisco, para que todos tenham o amor e cheguem ao Amor, plenitude da fraternidade cósmica e humana.
Deus e só Deus é a resposta adequada e, para Francisco, só a partir de Deus se entendem as reciprocidades da contingência humana, e a vocação à plenitude de todo o homem.
O Cântico das criaturas, que Francisco compôs quando sentiu-se na iminência a entrar no Seu reino, revela sua história de enamorado do cosmo pela sua harmonia-paradigma, no homem rompida pelo pecado e, que, por isso, só poderia ser conseguida, transformando a própria vida em louvor ao amor de Deus derramado na criação.
Como humanos, temos nossas preferências. Francisco também as tinha. Não uma preferência funcional como é a tentação comum do pragmatismo humano. Mas a preferência por aquele elemento da natureza e por aquele irmão humano, que mais me aproxima Deus. Eis o que diz em Opúsculos ditados (1-2), expressando sua última vontade a Santa Clara:
"Escreve assim como te digo: o primeiro irmão que o Senhor me deu foi Frei Bernardo. Foi o que primeiro começou e realizou, com suma excelência, a perfeição do Santo Evangelho, distribuindo todos os bens aos pobres; por esta razão e por muitas outras prerrogativas, sou obrigado a lhe devotar uma afeição maior do que a qualquer outro irmão em toda a religião. Por isto, desejo e ordeno, enquanto posso, que quem for ministro geral a ele ame e honre como a mim mesmo."
Todos nós temos também aquele irmão preferido, que foi cirineu, que abriu caminhos, que infundiu esperanças, que nos mostrou suas contingências, que nos testemunhou sua coragem de caminhar ao Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor! (Cântico ao Irmão Sol, 1).




Ana Lucia Mattiolli Noceti
www.caminhofranciscanodapaz.org

peregrino.s.f@gmail.com

27 de Julho de 2019
Ciao pellegrini
 Pace e Bene!
Todo aquele que em ato peregrina,em espirito é místico!
Sendo assim, abaixo segue o lado místico de Francisco ,e em anexo segue, o que o levou a ser místicos.
Fazendo-nos assim ver que, "entre o céu e a terra " existe algo muito maior...
Envio um fraterno abraço...
Feliz final de semana!!
A visão mística de São Francisco de Assis
FRANCISCO DE ASSIS E AS CRIATURAS
Fr. José Wiliam Corrêa de Araújo, OFMCap
A “criação” é, antes de tudo, um dom, uma realidade recebida d’Aquele em quem tem sua origem. O mundo da ciência e da técnica nos ensina a olhar todas as coisas como simples objetos. Por este caminho, o ser humano, cada vez mais, agride a natureza, assumindo um caminho inverso ao de Francisco de Assis. Torna-se urgente retomar a dinâmica humanista do movimento franciscano, por meio de novas experiências paradigmáticas que resgatem e revelem a dignidade de toda criatura e a complexidade do humano.
1. Francisco de Assis e a fraternidade cósmica
Francisco de Assis aprendeu a amar a todos os seres com atitude de acolhimento e de respeito diante de qualquer tipo de vida. O estilo de vida evangélica de Francisco de Assis resume-se naquela atitude fundamental que caracterizou o seu viver diante de Deus, do ser humano e da criação – a minoridade – a qual nada mais é que se deixar humanizar para viver humana e ecologicamente no ambiente, iluminado pelo Espírito de Cristo. Mesmo as menores coisas, Francisco de Assis chamava-as de irmãs, “pois sabia que elas e ele procediam do mesmo e único Princípio”. Ao fraternizar-se com todas as criaturas, ele inaugurou uma nova relação, por meio de um novo olhar. Francisco de Assis não se colocava “por cima” dos seres, das coisas ou dos animais, mas junto a eles, com eles e em sua companhia, porque sabia que a vida é um dom gratuito como o é o dom da criação inteira à qual se unia com afeto e irmandade. Esta fraternidade cósmica se souber compreendê-la, encerra o segredo de uma verdadeira fraternidade humana. Tomás de Celano, um dos seus primeiros biógrafos, nos diz que Francisco de Assis:
“Tinha tanta caridade que seu coração se comovia não só com as pessoas que passavam necessidade, mas também com os animais, os répteis, os pássaros e as outras criaturas sensíveis e insensíveis... Chamava todas as criaturas de irmãs, e de uma maneira especial, por ninguém experimentada, descobria os segredos do coração das criaturas, porque na verdade parecia já estar gozando a liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (Tomás de Celano, Vida I, n. 77; 81).
2. Das coisas sensíveis ao Autor das mesmas
Francisco de Assis partia das coisas sensíveis para, por meio delas e nelas, como que por degraus, chegar ao Autor das mesmas. No mundo em que se encontravam, as coisas apareciam-lhe, então, sob uma luz diferente, como sombras, alegorias e pegadas d’Aquele que as criara, e para o qual tendiam. Daí seu amor à natureza que, como um espelho, reflete, embora de forma imperfeita, a grandeza, a bondade e a beleza do Criador. Não se trata, pois, de um culto à natureza, enquanto tal, mas de uma veneração por ela, enquanto obra, na qual, de forma velada, o Criador se deixa entrever. E assim, Francisco celebrava a grande presença de Deus na criação e, diante das criaturas, ele respondia com afeição e reverência, aceitando a alteridade de cada ser.
Boaventura de Bagnoregio chama Francisco de Assis de “devoto adorador da Trindade”, pois ele projetava um olhar trinitário sobre o Cosmos e o humano, feito de relação, cuidado e solidariedade; um olhar de encantamento do mundo, frontalmente contrário à análise e manipulação dos tempos modernos. A partir de sua compreensão trinitária de Deus, Francisco de Assis buscava agir da mesma forma que as pessoas da Trindade, ou seja, de forma includente, relacionando-se com todos os seres e com todas as criaturas. E, vendo tudo a partir de uma luminosidade interior, ele descobriu que o mundo pode ser novo se é conquistado através de uma relação totalmente nova com uma aproximação espiritual a tudo que existe. São Boaventura expressa de forma maravilhosa à visão mística que Francisco tinha da criação:
“Impelido por todas as coisas ao amor de Deus, ele se rejubilava em todas as obras saídas das mãos do Criador, e graças a esse espetáculo que constituía sua alegria, remontava até Aquele que é a causa e razão vivificante do Universo. Numa coisa bela sabia contemplar o Belíssimo e, seguindo os traços impressos nas criaturas, por toda parte seguia o Dileto. De todas as coisas fazia uma escada para subir até Aquele que é todo encanto” (São Boaventura, Legenda Maior, IX, 1).
Para Francisco de Assis, tudo nos fala de Deus e nos remete a Deus. O Universo em sua unidade, bem como em sua diversidade, é um sacramento de Deus, uma “escada” que nos leva até o Criador. Deus está presente em cada criatura e em cada acontecimento. Todas as criaturas tiveram sua origem no mesmo Amor criador e cada uma delas é expressão diversificada deste amor.
3. A ética do cuidado em Francisco de Assis
Francisco de Assis não viveu sua experiência de Deus sozinho, mas em comunidade, numa vivência ética do cuidado de uns pelos outros que rompe a solidão própria da Modernidade. Em Francisco, a natureza nunca foi objeto útil ou campo permitido para desenvolver a ambição incontrolada do ser humano, mas tinha autonomia própria, valor intrínseco e um sentido profundo que não podia ser esquecido nem ocultado. Ele não traçou caminhos de domínio, mas sim, de fraternidade, solidariedade e serviço. Ele era o irmão que a todas as criaturas se associava para agradecer; o irmão que sofria quando a imagem do Sumo Bem, amável sobre todas as coisas, era desconhecida, mal amada, desfigurada e destruída. Ele olhava para toda realidade com olhar de simpatia amorosa, e era sumamente humilde o seu respeito e respeitoso para com todos, não lhes invejando nada, pois atribuía todo bem a Deus.
4. A experiência fraterna de Francisco de Assis
A humildade de Francisco de Assis diante das criaturas abriu-lhe o caminho da paz, pois, não pode haver verdadeira reconciliação consigo mesmo sem uma verdadeira reconciliação com a própria natureza e com a vida como um todo. Sua humildade diante da vida o fez renunciar a considerar-se senhor do Universo. Aceitou-se como criatura entre as criaturas, irmão das mais humildes dentre elas. Ele entrou no jogo da Aliança e tornou-se um criador de unidade e de fraternidade.
A primeira experiência humana e fraterna de Francisco, antes mesmo que fosse constituída a sua fraternidade, foi à descoberta do outro, pessoa como ele, e com o qual ele se identificou. E passou a considerar a todos como irmãos, usando da misericórdia que o Senhor lhe inspirava. Mas, Francisco de Assis não foi, no início, um modelo de doçura. Suas ambições o haviam atirado à guerra como caminho para a glória. No seu processo de conversão, ele foi abrindo-se, aos poucos, à grande doçura de Deus. E assim, ele soube domesticar sua própria agressividade, convertendo o lobo; não aquele que vive apenas nas florestas, mas que se oculta em cada um de nós, e o lobo feroz se tornou fraternal. O grande êxito de sua vida não foi sua Ordem, mas o homem que ele foi se tornando, de coração imenso que reatou os laços de amor com o Criador. Dessa forma, em seu coração, os nomes de “irmão” ou “irmã” exprimiam não só uma verdade dogmática, mas também uma verdadeira “emoção amorosa”, “uma fusão afetiva cósmica”. Em suma, esta declaração de fraternidade era também o reconhecimento duma intimidade e duma espécie de consangüinidade experimentada.
Os biógrafos de Francisco de Assis são unânimes em ressaltar a relação fraterna que ele tinha com todos os seres da criação. O respeito que cultivava para com todas as criaturas, fruto de uma atitude celebrativa de, com elas, unir-se no louvor ao Criador. E, aberto ao amor de todas as criaturas e de toda a criação, enraizado na alegria, Francisco de Assis abalou a sensibilidade medieval e cristã. Por essa razão, o Papa João Paulo II declarou-o, em sua carta “Inter sanctos praeclarosque viros” (29 de novembro de 1979), o Santo Padroeiro de todos os que se preocupam pelo bem-estar ecológico, canonizando o sentimento do seu grande amor por todos os seres criados.

5. A mística de Francisco de Assis 
Para Francisco, cada coisa e cada ser humano possuíam sua própria individualidade que era preciso respeitar e amar. Todas as criaturas de Deus têm direito à existência e nenhuma delas nos pertence completamente, portanto, não estão sujeitas ao nosso domínio. Sem sombra de dúvida, Francisco de Assis foi um grande poeta capaz de captar a mensagem transcendental e sacramental que todas as coisas proclamam. A profundidade da sua experiência de estar-com-as-coisas como irmãos e irmãs em casa tem sua raiz na experiência religiosa da paternidade universal de Deus. Que Deus é Pai, não era para São Francisco um dogma frio e a conclusão de um raciocínio, sobre a contingência das criaturas. Constituía uma experiência afetiva profunda e implicava numa fusão cósmica com todos os elementos.
Ele não viveu somente a mística da filiação divina, mas também descobriu os desdobramentos desta verdade teológica. Se nós somos filhos e filhas, então somos irmãos e irmãs. Assim, chamava com o doce nome de irmão e de irmã o sol e a lua, o fogo , a água, as ervas daninhas e até as enfermidades e a morte. Francisco de Assis acolhia todas as criaturas como irmãs e respeitava plenamente a liberdade de todas elas. Esta é a maneira como ele viveu sua atitude fraterna para com todas as criaturas. A partir desta mística de confraternização universal, Francisco de Assis tratava todas as coisas com sumo respeito e veneração.
A relação com as criaturas não somente o levava ao reconhecimento e louvor, mas também a um trabalho de transformação, de apostolado, de lutar contra o mal para realizar o projeto eterno de Deus. E, no espelhamento de Deus em todas as coisas, destaca-se o ser humano, imagem e semelhança sua, não por ser belo, rico, sábio ou místico. Pelo contrário, os débeis, os fracos, os crucificados, os que levam diariamente sobre os ombros a cruz de Cristo, para Francisco de Assis, estes é que são os preferidos de Deus.
Conclusão
O comportamento de Francisco de Assis para com a criação caracterizava-se por um venerado respeito e harmonia pelas criaturas, na prática da solidariedade e responsabilidade. Em suma, ele não era homem da ciência, mas da sabedoria de vida. Ele não codificou conhecimentos, mas buscou viver intensamente o Evangelho, no seguimento radical de Cristo.